30 de janeiro de 2011

Walk like an egiptian II





Walk like an egiptian I





Todos os caminhos vão dar ao Cairo



Dizia um proscrito da história de nome Leão Trotsky que todas as revoluções são impossíveis até que se tornam inevitáveis. Talvez pensem agora nisto todos os ideólogos do regime e generais de sofá que durante anos andaram a emprenhar-nos os ouvidos com a incapacidade cultural dos árabes para entender a democracia, a fraqueza da sociedade civil, a menorização da mulher árabe e acima de tudo o potencial jihadista tresloucado que habita em cada ser humano entre o estreito de Gibraltar e as ilhas Molucas. As ilações disto eram óbvias: primeiro, que os árabes só possam ser governados por ditadores é algo de natural e necessário para manter a turba na ordem e garantam um salutar enquadramento na comunidade internacional (ou seja, para nos vender petróleo). Segundo, quando os ditadores deixam de garantir o salutar enquadramento na comunidade internacional a mudança de regime só é possível à bomba.

O que acontece agora na Tunísia e no Egipto é o desmoronar de todo uma ideologia racista e neocolonialista e esperamos (tudo está ainda em aberto) um abalo definitivo ao poder americano na região. A tenacidade dos revolucionários e revolucionárias no Egipto e na Tunísia é um exemplo e uma fonte de inspiração para todo o mundo árabe, na verdade para todo o mundo. Se o Egipto cair às mãos da revolta popular não é de espantar que o muro da Faixa de Gaza na secção que faz fronteira com o Egipto no Sinai possa ser derrubado. Se tal acontecer, essa brecha vai permitir a todos os árabes ver a hipocrisia dos ditadores árabes face aos palestinianos, ganhar força para derrubar mais algumas ditaduras e no processo mudar o futuro da Palestina.

Mas isso faz parte de um futuro ainda em disputa cujo próximo passo está a ser jogado neste momento na Praça Tahrir. Por enquanto já valeu a pena ver as massas esfomeadas do Cairo mostrar ao mundo que sempre souberam muito mais de democracia do que qualquer académico gorduroso da nossa praça.


29 de janeiro de 2011

"48"



Esperamos a sua estreia nas salas portuguesas.

“48” é um documentário de Susana de Sousa Dias, sobre a tortura no Estado Novo em Portugal. 
Venceu o Prémio Opus Bonum para Melhor Documentário Internacional no Festival Internacional do Filme Documentário de Jihlava, na República Checa.
O último prémio conquistado pelo documentário foi o FIPRESCI, atribuído pela Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica, no Festival Internacional do Documentário e Cinema de Animação de Leipzig, na Alemanha, que decorreu de 18 a 24 de outubro último.
Além daqueles galardões, “48” já foi contemplado com o Grande Prémio do Cinema du Réel, em França, e vai competir noutros festivais internacionais, nomeadamente em Turim (Itália), Sarajevo (Bósnia e Herzegovina) , Istambul (Turquia), Buenos Aires (Argentina), Bogotá (Colómbia), Belo Horizonte (Brasil), Milão (Itália) e Leeds (Reino Unido).
Susana de Sousa Dias, é realizadora de “Processo-crime 141/53 – Enfermeiras no Estado Novo” (2000) e “Natureza Morta” (2005), em “48”voltou ao período do Estado Novo para falar dos antigos prisioneiros da PIDE, polícia política dos regimes de Salazar e Caetano.
O documentário integra testemunhos de entrevistas realizadas pela realizadora, sobrepostos às imagens a preto e branco tiradas na época por agentes da PIDE às pessoas que foram presas e torturadas.



Isto de ser mulher tem muito que se lhe diga...





Sabes Maria? Isto de ser mulher tem muito que se lhe diga...
Não é só o corre, corre de cada dia, entre o trabalho, a casa e muitas vezes os filhos. Não é só uma sociedade que nos impõe (e nós também) o mainstrem da beleza feminina e da boa mãe de família, não é só a violência doméstica, não é só a discriminação social e nos locais de trabalho, há tanto por revelar Maria...
Alguns números chocam, sabes? Olha, só...
As mulheres representam 49% da população mundial, contudo detêm 1% da riqueza, possuem apenas 3,5% das propriedades, têm somente direita a 10% das receitas, quando ainda assim trabalham mais 25% que os homens e ganhando menos 30% que um homem com o mesmo emprego... (cf. NORRIS, P. Women's Legislative Participation in Western Europe, West European Politics).
No entanto temos uma história de luta e resistência que nos deve orgulhar e dar ânimo para mais luta e mais resistência.
Ai Maria deixa-me adivinhar! Já pensaste, que doida, uma feminista! Não te assustes Maria, o feminismo foi e é um movimento libertador cujo objectivo principal é a obtenção de iguais direitos para homens e mulheres e uma vivência livre de opressão, entre outros pelo género. Senão vejamos:
O feminismo ou o seu embrião, isto é, o primeiro grupo de mulheres que se juntou para falar sobre assuntos do seu interesse, que não tachos e panelas, teve lugar na Europa, mais concretamente em Middelburgo, uma cidade do sul dos Países Baixos em 1785.
Mas foi, a partir dos movimentos revolucionários que imanaram do período da Revolução Francesa e da expansão do capitalismo e com o surgimento dos partidos de esquerda, que, pela primeira vez, as mulheres encontraram espaço para as suas manifestações.
Os partidos precisavam das mulheres e as mulheres precisavam do espaço que os partidos lhes proporcionavam, podendo aí reivindicar, por exemplo, o direito ao voto. Tornou-se por isso natural que fosse um manifesto comum a feministas e revolucionários e que os direitos conquistados se tornassem direitos naturais para homens e mulheres. A primeira grande conquista deste período (Revolução Francesa) foi a instauração do casamento civil e a lei do divórcio em França.
Já no séc. XIX, em plena revolução industrial, a quantidade de mulheres trabalhadoras aumentou brutalmente, no entanto a diferença salarial entre sexos (ainda hoje existente) era avassaladora e tinha como argumento de base o facto de que estas tinham quem as sustentasse. Ora, nesse período, a visão socialista de um mundo sem exploração de classes ganhou forma e força e a situação das mulheres foi uma das partes visíveis dos vários tipos de exploração. O movimento feminista aliou-se então ao Movimento Operário. Organizadas, as mulheres tiveram a sua primeira convenção pelos Direitos das Mulheres em Seneca Falls, Nova York em 1848.
Em 1893 a Nova Zelândia foi o primeiro país onde as mulheres tiveram direito a voto, seguiram-se em 1918 a Alemanha e o Reino Unido e em 1945 a França, Itália e Japão.
Ora, até ao final dos anos 40 de séc. XX, as reivindicações de direito ao voto, à escolarização e ao acesso ao mercado de trabalho, foram formalmente conquistadas em quase todos os países ocidentais, obviamente que a abertura do mercado de trabalho se deveu essencialmente à falta de mão-de-obra masculina no período das duas grandes guerras, após o que terminada essa fase, de imediato se iniciou uma campanha de desvalorização do trabalho feminino.
A década de 60 trouxe para a discussão feminista o questionamento das raízes culturais das desigualdades, na construção social do indivíduo.
As conquistas maiores nas sociedades ocidentais foram o direito ao voto, o direito ao divórcio, o controlo do seu corpo com o direito à contracepção e ao aborto, o direito à propriedade e as oportunidades de trabalho com salários e promoções equiparadas aos homens...
Como nós sabemos, Maria, quão ténues são estas conquistas aqui na Europa Ocidental. Imagina só para todas as outras mulheres...
É por nós e por elas, Maria, que continua a ser preciso Lutar e Resistir!

Até breve



27 de janeiro de 2011

As escolas privadas de Coimbra também foram chorar a Lisboa. (in Aventar)

Como era de esperar a luta dos empresários privados, e confissões religiosas, continua. Vejam o caso de Coimbra. A verde os que, só da zona urbana, foram hoje manifestar-se. A amarelo a rede de ensino pública (2º e 3º ciclo e secundário), com quase todas as escolas subaproveitadas, algumas muito longe do número de alunos que já tiveram.



Transcrevo também o comunicado do meu Sindicato, o SPRC, que desde sempre denunciou esta situação pregando aos peixes, enquanto o Ministério da Educação continuava a esbanjar o seu orçamento para satisfazer a ganância de alguns empresários e de uma confissão religiosa:




POSIÇÃO DO SPRC FACE AOS PROTESTOS PROMOVIDOS PELOS EMPRESÁRIOS DO SECTOR DA EDUCAÇÃO


Também na região centro, colégios privados com contrato de associação iniciaram hoje alguns dias de protesto com o objectivo de continuarem a pressionar o governo a pagar-lhes um valor superior ao do financiamento das escolas públicas.


Ao longo de muitos anos, o poder político, não só fechou os olhos, como pactuou com a proliferação destes colégios, alguns dos quais construídos ao lado de escolas públicas, mas, mesmo assim, tendo celebrado contrato de associação com o Estado.


Exemplo em Coimbra foi o Colégio de São Martinho que, praticamente, se encostou às EB 2.3 de Taveiro e Inês de Castro, ficando sempre a dúvida (que ainda hoje paira) sobre os expedientes que os proprietários do colégio (ex-dirigentes da DREC) terão utilizado para obterem o que, pela lei vigente, a todos parecia impossível.


Mas não é esse o único problema. As histórias contadas por professores de colégios são muitas e os documentos que as ilustram permitem perceber como enriqueceram empresários que encararam a Educação como um negócio, tendo, alguns, construído verdadeiros impérios.


Confessa um desses empresários que, pela forma como organiza as coisas, põe uma turma a funcionar todo o ano por pouco mais de 50.000 euros. Acima desse valor tem lucro, pretendendo garantir que ele seja o mais elevado possível. Se é assim ou não é, o SPRC desconhece, mas que os sinais exteriores de muito lucro existem, isso está à vista de todos!


O que chega ao Sindicato, relatado por vários professores, chega a surpreender e indignar. São…


… os recibos de vencimento que exibem valores superiores ao que é pago;


… a devolução, em dinheiro, do montante correspondente ao subsídio de refeição;


… os horários que apresentam uma “face oculta”, havendo muitos em que são impostas actividades lectivas na componente não lectiva;


… as (muitas) horas de trabalho “à borla”;


… as professoras que estiveram de licença de maternidade e entregaram ao patrão o cheque da Segurança Social que receberam quando regressaram ao serviço;


… os registos biográficos que não correspondem à assiduidade dos docentes: uns por defeito, outros por excesso;


… as actividades pagas pelo ME que também são pagas pelos pais mas que não são pagas aos professores que as desenvolvem…


São muitas as histórias que chegam ao Sindicato, grande parte seguindo depois o percurso normal da via jurídica, não surpreendendo que professores obtenham indemnizações que, no caso do SPRC, já atingiram os cem mil euros.


É agora num quadro de redução do financiamento público que os colégios ameaçam encerrar as suas portas durante alguns dias. Como? Em lock-out? Não podem! Em greve dos professores? Não há! Por decisão dos pais que impedem as crianças de frequentar a escola? É preciso cuidado, pois, por essa razão, há pais de alunos de escolas públicas que foram abordados pela polícia por não garantirem que os seus filhos frequentassem a escolaridade obrigatória. Como vale mais prevenir do que remediar, aos professores o SPRC aconselha: cumpram, nesses dias, o seu horário na escola, não vá a entidade patronal descontar-lhes o salário do dia de trabalho.


Apanhados neste turbilhão, sobre os professores abate-se uma violenta onda de pressões e ameaças, sendo “convidados” a aceitar cortes nos salários, alterações nos horários e até indemnizações para serem despedidos. É vergonhoso que isto aconteça, pois são situações que têm lugar num clima de grande pressão sobre os docentes! Para o SPRC, não há qualquer justificação para que não se cumpra o clausulado do Contrato Colectivo de Trabalho e não se respeitem as normas das leis laborais, pelo que não pactuará com as ilegalidades praticadas.


É insuficiente a verba que os colégios recebem para promoverem uma resposta que, no caso dos contratos de associação, é pública? Há que fazer contas e saber isso, mas fazê-las também para o público, pois, neste caso, o ensino não pode ter custos diferentes conforme os promotores!


Foi a passividade de vários governos que permitiu chegar ao ponto a que se chegou. Durante quantos anos o poder político fechou os olhos e arquivou processos disciplinares instaurados a colégios? Talvez por isso se sinta hoje refém da sua própria apatia.


Com a devida vénia ao Aventar.



26 de janeiro de 2011

Contratos de associação - Uma vergonha!



É caso para dizer:
A escola do meu filho sou eu que a escolho... e são vocês que a pagam!
O rosário das queixinhas é extraordinário na sua densidade demagógica. Os sacanas dizem que têm o direito a escolher o projecto educativo para os filhos. Que a escola pública mais próxima fica a 11 Km. Imagine-se 11 Km!?! Até de carroça lá chegariam em menos de meia hora. Que os contratos de associação ficam mais baratos ao Estado. Não têm um pingo de vergonha, quando ainda para mais são escarro de cor e substância idêntica, àqueles que andam há anos a atirarem-nos com os malefícios deste Estado Social, tão gastador.
Só apetece ir-lhes às ventas.
A respeito de tudo quanto escondem, já o aqui o escrevi.



24 de janeiro de 2011

Análise ao resultado eleitoral

Poucos são os aspectos positivos a extrair das eleições presidenciais de 2011.

Desde logo a reeleição de Cavaco Silva, que confirma a severa crise civillizacional que trespassa a Europa Ocidental, berço das mais profícuas e libertadoras conquistas que a humanidade experimentou. Tony Blair, Sarkozy, Berlusconi, Aznar, Durão Barroso, entre outros, fazem parte desta horrível galeria de marionetas que se envaidessem com o palco que lhes é facultado pela oligarquia que explora este planeta.

Cavaco Silva venceu as eleições. Os portugueses e sobretudo a democracia merecem o meu respeito por esta eleição, a besta não merece os meus parabéns.
Ao contrário de todos os seus anteriores sucessores, conseguiu a proeza de não consolidar a votação tida na primeira eleição.
Ficam os cidadãos honestos, atentos e humanistas traumatizados por terem que levar com este sujeito, por mais cinco anos. Fica o sujeito com o título de presidente menos apreciado da história de Portugal.


Havendo mais de 700 mil eleitores que nas anteriores presidenciais, votaram menos 1.041.494. Não se adivinhando uma forma de distribuir estas desistências pelos diversos candidatos ou candidaturas repetentes, restar-nos-á uma extrapolação em jeito de regra de 3 simples, apontando a mesma como expectável, que Cavaco Silva tivesse obtido menos 520.000 votos. Este candidato, que recorde-se era apenas o Presidente da República, conseguiu perder 516.600 votos. Ou seja, ao fim de um mandato presidencial, o homem não conseguiu aumentar a sua popularidade. Caso único e capaz de envergonhar qualquer político sério e com um pingo de autoestima. Não conto ver o figurão corar.


O político Manuel Alegre morreu. Salve-se o poeta.

Politicamente o resultado obtido por Alegre nestas eleições, ficará na história da ainda jovem democracia portuguesa, como a maior derrota eleitoral de que haverá memória. Derrota à qual não poderão escapar o PS e o BE.

Manuel Alegre obteve menos 293.000 votos que na eleição anterior. Utilizando a mesma regra de três simples e em função do milhão de eleitores que votou nas anteriores presidenciais e desta feita se absteve, Alegre deveria ter perdido apenas 225.000 votantes. Ou seja, Alegre não foi sequer capaz de fixar os seus anteriores eleitores. Mas a sua derrota é de uma dimensão avassaladoramente maior.
Senão vejamos:
A somar ao 1.125.086 votos que obteve em 2006, Manuel Alegre deveria estar a contar com os 778.789 votos de Mário Soares, candidato apoiado pelo PS, partido que nesta eleição, apoiou Manuel Alegre. Mais ainda deveria o poeta esperar adicionar a este pecúlio, os 288.262 votos então obtidos por Louçã. Uma vez mais e socorrendo-nos da única extrapolação lícita, este candidato partiu para as presentes eleições com uma base de apoio cifrada em 2.192.137 votos, que representariam em função do acréscimo de abstenção, uns actuais 1.708.803 votos, ficando-se por uns “míseros” 831.959 votos, perdendo “apenas” 876.844 votos (51%).


Francisco Lopes, outro grande derrotado.

O PCP continua entretido na sua assinalável, quanto árdua tarefa de sobreviver, fazendo-o com o altruismo, a honestidade e a educação que os portugueses e o modelo de organização social escolhido ou imposto, não merecem.
E neste círculo vicioso em que se enredou, não morre, mas tão pouco desponta. E já vai sendo tempo de romper como alternativa credível e capaz de entusiasmar parte significativa de uma população que já há muito voltou costas a esta classe política.

Ao contrário do BE, mantém a sua identidade, não se vende a uma potativa eleição ou vitória eleitoral. Mas não cresce e tão pouco fixa eleitorado, acabando por perder um significativo número de votantes. Na verdade e utilizando o método anterior, tendo como comparação a votação conseguida por Jerónimo de Sousa, em 2006, Francisco Lopes perde 165.685 votos, quando o limiar de perda, imposto pela nossa regra de três simples, seria 90.000 votos. A votação do candidato do PCP, fica assim a 20 % do mínimo exigível, facto que obriga a catalogar o seu resultado como negativo. Mais negativo ainda, quando obtido na actual conjuntura politica e social.

Sem qualquer referencial comparativo, a análise aos resultados obtidos pelos restantes candidatos deve ser feita em termos absolutos, procurando identificar a origem dos seus votos e a caracterização de um eleitorado indefinido, mas onde se adivinham as respectivas motivações.

Fernando Nobre surge-nos como o Manuel Alegre de 2006. O candidato de todos aqueles que aceitando sem ponta de mágoa o actual sistema de organização politico-económico, apenas se encontram desagradados com os actuais interpretes. É caso para dizer: Taditos, estão tão aborrecidos! E adivinhar-lhes as interjeições: “Estes políticos são todos uns cocós. É preciso mudar e o seu dotor parece ser gente séria, até falou com uma data de bispos. É bom e é chique. Até emocinou com a coragem do tiro na cabeça!”.
Político prêt-à-porter, uma nova tendência com raízes retornadas, nada tendo a ver com a anterior colecção absolutamente démodé. Albergue de gente de toda a espécie, ainda assim possível de agrupar em dois imensos “clusters”.
Uma intelectualidade transversal ao espectro politico-partidário, que se tem em muito boa conta pessoal e, com crença na sua destreza mental se acha capaz de romper amarras com os políticos que o 25 de Abril pariu. São eleitores do sistema, dele sairam e a ele irão, em breve, regressar.
E uma direita reaccionária e católica que não acredita nas lágrimas de crocodilo vertidas pelo filho do gasolineiro de boliqueime e que na sua caridadezinha de condão humanitário, se revê no lider da AMI.

José Manuel Coelho sim, apresenta-se como um candidato anti-sistémico, capaz das traquinices que o PCP impede aos seus jovens e menos jovens militantes. Para ele, a educação é a verdade e a denúncia. O discurso é a confrontação sem tréguas. Um candidato onde a coragem se confunde com a tolice, que fez as delícias de uma boa parte do sumido eleitorado do BE e de outras esquerdas baixas.
Intelectuais de uma esquerda urbana, envergonhada do seu passado e intelectuais de uma esquerda rural, quais bloquistas “matarruanos”, encontraram o Coelho no fundo de uma cartola para onde foram atirados pela sua desavergonhada elite partidária.




23 de janeiro de 2011

Gente estranha...



Lá terá de ser,
acordar e ter de enfrentar
uma manhã de segunda-feira
entre gente muito estranha
lá terá de ser...


Vou votar!





No Portugal de Abril e para aqueles que não se revêem no actual estado de coisas, nunca uma eleição se apresentou tão clara na hora do voto.

Cinco candidatos de direita, mais ou menos conformistas, mais ou menos situacionistas.

Um único e valoroso candidato de esquerda.

Cinco artistas contorcionistas a praticarem malabares com a Lei do Orçamento de Estado.

Um combatente pelos direitos do povo português que sem hesitações ou hipocrisia, atirou para bem longe a prescrição neo-liberal.

Cinco artistas com cognomes apelativos, dos quais por economia de espaço, apenas citarei três:

“O Bom(zinho)” – ex-apoiante dos seus actuais contendores de direita, médico esquizofrénico e beato.

“O Mau” – javardo em toda a linha, reaccionário, demagogo, populista, homofóbico, machista, e todos os demais predicados com que orgulhosamente se apresenta a aprendiz de ditador.

E "O Vilão” – poeta enganador e ressabiado que em tempos recentes consporcou a casa a democracia portuguesa ao receber ali e de braços abertos, um ex-detido de delito comum, e que delito...

Nesta lusa cowboyada em registo de western spaghetti, os rostos aparecem-nos atenuados pela cosmética dos brandos costumes, produzindo a mais estranha das aberrações. Vítimas e vilões em abraços dessincronizados, que a política a isso obriga.
Um bloco de intelectualoides que, afirmando-se de esquerda, se prestam ao triste papel de apoiarem o Vilão, ou até o Bom(zinho). Ou ainda e nos casos de maior pudor, se dispõem a tirar coelhinhos da cartola.
Porque todos, sem excepção, do alto da sua soberba intelectual, apenas dão provas da sua incapacidade em romperem o mesmo preconceito que afecta o resto da carneirada.

Bem hajam todos.

Vou votar com a certeza cada vez maior, que o fogo de artifício deflagrado em Abril, por uma certa esquerda, não passou de um fogo fátuo, acompanhado de petardos foleiros a fazerem adivinhar os efeitos sonoros desta importada cowboyada “à La Berlusconi”.




Cúmulo da demagogia

Sem ilustração, para não ferir espíritos mais sensíveis.

Vamos a votos. Pela enésima vez, vamos a votos.
Está bem que a democracia é repetitiva! Mas sê-lo-á por conta da falta de imaginação dos portugueses.
Também é dispendiosa! Facto que a todos deveria preocupar, levando-nos sensatamente a prescindir de tantos plebiscitos.
Eu atrever-me-ia até, a sugerir as seguintes alterações:
Eleições legislativas somente de 8 em 8 anos. Poupavamos na realização dos actos eleitorais, mas também e sobretudo, na dança das cadeiras para boys e afilhados.
As eleições presidenciais poderiam realizar-se de 10 em 10 anos. Assim como assim, os portugueses concedem sempre e a título gratuito, um segundo mandato a qualquer idiota que à primeira, o feliz acaso atire para Belém.
Quanto às autárquicas permitam-me ser um pouco menos conservador e apontar para mandatos sem termo certo. Mandatos que cessariam quando a maioria dos munícipes ou fregueses assim o desejassem. Apresentando-se como a proposta mais arriscada, a avaliar pelo passado, a maioria das renúncias dar-se-iam, não tanto por vontade das populações, mas por imposição suprema, ditada pela lei da vida – a morte.
Dito com ironia, tudo isto nos fará sentir com a elevação moral daqueles que se riem das suas próprias fraquezas.
Dito com vontade de atalhar caminho em busca da vitória mais fácil, é ardil do mais ordinário que a democracia pode parir. Mais javardo que isto, só comer bolo-rei de boca aberta e a cuspir os restantes comensais.



Metáfora ou talvez não!




Só quero lembrar para quem ainda não percebeu, que amanhã há eleições para eleger o próximo Presidente da República! Sim é agora! Custa acreditar? É tudo tão surreal, não é?

“Dêem-me um tiro na cabeça porque sem tiro na cabeça eu vou para Belém”

Parece-me uma tentativa de se equiparar a algumas personalidades da história como Luther King. Uma auto promoção a mártir, metaforicamente falando ou não!
Para além de outras razões bem mais importantes, também vou votar contra o benefício da vitimização de alguns, contra o lunatismo e a esquizofrenia de outros, contra a arrogância e a prepotência dos de sempre.
Há quem diga que depois desta campanha presidencial o país nunca mais vai ser o mesmo. Estou muito curioso para ver qual o efeito que vai ter em algumas forças políticas.

Entretanto num país muito próximo de uma sociedade do terceiro mundo:

A- Vais votar no Domingo?
B- Vou, se acordar cedo!
A- Porquê se acordar cedo?
B- Porque está menos gente, achas que vou levar com aquela gentinha toda, não?
A- Às vezes surpreendes, dizes cada coisa!
B- Daqui a pouco estás a dizer que sou maluco, põe-te mas é fino ó…
A- Estás a exagerar, não achas?
B- Estou a exagerar? Disseste que eu sou maluco, estás a perceber?
A- Vamos resolver isto, anda daí que eu pago-te um copo, afinal somos amigos.
B- Resolver o quê? O que está dito está dito, não tenho que te dar explicações, ouviste?
A- Nem acredito que estamos a ter este tipo de conversa.
B- Não te digo mais nada, acabou! Queres pagar um copo, pagas, se não queres, há mais quem queira a minha companhia! Como eu há poucos, só os grandes, estás a perceber?
A- Depois desta cervejinha, estás mais calmo? Dá para perceberes que não estiveste bem?
B- Pensas que lá por pagares um copo vou ter que levar contigo? Até te digo mais, quem paga o meu copo sou eu!
A- Tudo bem, é pena que não dê para falar contigo.
B- Comigo? Vai mas é falar com o…
A- Vou embora, até um dia destes!
B- Vai, vai… espera aí, esqueci-me da carteira, paga-me lá o copo por favor…
A- Vês, estavas a armar-te em esperto, mas saiu-te o tiro pela culatra!
B- O quê?? Já vais pegar na arma?? Eu não preciso de armas!!!

O modo de fazer política em Portugal assemelha-se cada vez mais a uma conversa de café!


22 de janeiro de 2011

Desculpa Maria






Por razões várias te negligenciamos. Não somos bloguers a tempo inteiro, temos a nossas actividades profissionais, as nossas famílias, as nossas vidas...
Ainda assim continuamos a acreditar em ti e queremos compensar-te.
Estamos em tempo de eleições, quase sem nos darmos conta disso. As convicções estão presentes, a catarze ser-nos-á permitida por ti e dela continuará a viver este espaço.
Portugal insiste em se exibir como um dos locais mais mal frequentadas da Europa. Com a vitória que se avizinha, ameaça tornar-se num imenso Gondomar.
Eu no Porto e Oeiras aqui tão perto.
Estivemos doentes ou impedidos. Trabalhamos como cães e alguns de nós viram o salário levar uma talhada.
Perdemos o fôlego e mais uma vez te pedimos desculpa.
Sem querermos partidarizar em demasia este espaço, assumimos entre todos a liberdade de exprimirmos as nossas preferências ou antipatias. Sendo tarde no contexto das presidenciais, aproveitaremos a reflexão.
Para já importará lembrar que nos despedimos de Hazmat Modine, para darmos a conhecer Modena City Ramblers.
Dos nova-iorquinos ficam a originalidade, a alegria e descontração com que se lançam nas suas diatribes musicais. Interpretam uma original fusão de estilos tão diversos como o blues, o reggae, o klezmer, country e música cigana. Esta diversidade fica também patente nos instrumentos utilizados, originários da China antiga ou da Roménia. Encerro a sua apresentação com a citação do texto que lhes é reservado em crónicasdaterra.com:
“Uma das grandes qualidades dos Hazmat Modine que salta ao ouvido à primeira audição do seu disco “Bahamut”, é a forma mutante como os seus blues de raiz sulista nos oferecem multiplas visões temporais e geográficas da música americana e do resto do mundo: das canções de trabalho em linhas férreas, registadas por Alan Lomax com aquele som analógico e poeirento; à alma negra de Sonny Boy Williamson e ao «swing» do performer e do saltimbanco britânico Rory McLeod, quando as duas harmónicas se confrontam e imprimem um ritmo frenético; ao balanço do ragtime e do foxtrot do início do século XX; à serenidade acústica de uma banjitar que suporta os harmónicos vocais dos Huun Huur-Tu de Tuva; à forma esguia como as guitarras eléctricas facilmente entram em territórios caribenhos do reggae e do calypso, à slide que nos remete para o Hawaii e ao olhar para a música de casamentos judaicos e cigana do leste da Europa (sobretudo Romena), por via dos metais, do clarinete e do cimbalão.”

18 de janeiro de 2011

Ary dos Santos - Relembrar o Poeta do Povo

            

                  
               José Carlos Ary dos Santos




"Temos a obrigação de o manter vivo. Corremos sério risco de extinção (cívica e cultural) se não nos exercitarmos com a sua voz, com as vozes de todos os mortos e de todos os vivos que justificam a espécie humana. E o compromisso com a Vida implica tomar partido pela fraternidade e pela emancipação, pelas multidões de punho firme e esclarecido. E neste tempo de retrocesso de conquistas democráticas nacionais e de rompimento de equilíbrios internacionais - ler, cantar e declamar Ary impõe-se como uma dívida para com um valoroso soldado da Língua Portuguesa."










6 de janeiro de 2011

Desmontando as inevitabilidades...



A receita da austeridade é-nos mostrada como inevitável e do senso comum. Este professor de Economia mostra-nos porque é que não é bem assim…