8 de dezembro de 2010

Wikileaks, a cobardia dos orgãos de informação




Numa tão atabalhoada, quanto desesperada tentativa de distrair as atenções da opinião pública sobre as sombrias actividades da inteligência norte-americana e a miserável subserviência revelada pelos governos dos restantes países, onde lamentavelmente se podem incluir as principais nações europeias, os órgãos de informação ocidentais brindaram-nos com mais um medíocre espectáculo. Na verdade, havendo tanto de que se falar, tais órgãos de (des)informação, socorreram-se de diversos “fait divers” relativos ao carácter de alguns políticos da cena internacional, como manobra de diversão, no sentido de distraírem a opinião pública do essencial.
A agilidade, a insistência e a falta de vergonha com que a maioria dos editores e seus quejandos se apresta, agora, a lembrar o seu código deontológico, faz-me imaginá-los de avental e espanador na mão a limparem o pó, àquilo que durante anos esqueceram. Sem sequer pretender disfarçar, esta corja de paus-mandados sujeita-se, pelas posições adoptadas, a ser confundida com a criadagem que de fardazinha mais arrojada e abandonado o malfadado espanador, se agarra com afinco a instrumentos mais conotados com a prática de outro tipo de serviços domésticos.
Ainda assim, algumas das revelações wikiliquianas de interesse mereceram tratamento informativo. Como refere Gareth Porter, no CounterPunch da semana passada, algumas das revelações longe de louváveis para a imprensa "de referência" dos EUA, mereceram um tratamento situado entre o que designo, a mentira e a meia verdade.
Identificado um telegrama diplomático de Fevereiro último, divulgado pelo Wikileaks e que apresenta um relato pormenorizado de como, especialistas russos no programa de mísseis balísticos iranianos, refutaram a sugestão dos EUA de que o Irão dispõe de mísseis capazes de alvejar capitais europeias ou que pretende desenvolver tal capacidade, Porter destaca o seguinte aspecto:
"Os leitores dos dois principais jornais dos EUA nunca conheceram os factos chave acerca do documento. O New York Post e o Washington Post informaram apenas que os Estados Unidos acreditavam que o Irão havia adquirido tais mísseis – supostamente chamados BM-25 – à Coreia do Norte. Nenhum dos dois jornais informou a pormenorizada refutação russa do ponto de vista americano sobre a questão ou a falta de prova concreta dos BM-25 por parte dos EUA.”
“O The Times, que segundo o Washington Post, de segunda-feira, obteve os telegramas diplomáticos não do WikiLeaks, mas sim, do The Guardian, não publicou o texto do telegrama. A notícia no The Times, dizia que jornal tomara a decisão de não publicar 'a pedido da administração Obama'. Isso significa que os seus leitores não poderiam comparar a informação altamente distorcida do documento na notícia do The Times, com o documento original, sem pesquisarem o site do WikiLeaks".
A aversão ao WikiLeaks na imprensa "oficial" dos EUA ficou bem patente já na primeira das duas grandes divulgações de documentos relativos às guerras no Iraque e no Afeganistão. O New York Times, conseguiu o feito pouco elegante de publicar algumas das fugas enquanto simultaneamente afectava uma atitude arrogante e dava uma machadada maldosa em Assange escrita pelo seu repórter John F. Burns, homem com um registo brilhante de colaboração com várias agendas do governo estado-unidense.
Mais que as manobras de diversão, cortinas de fumo e a opinião pré-formatada que nos tenta impingir, são a mentira ou as meias verdades que caracterizam a desonestidade intelectual e moral dos arautos do regime.
Prova, provada Maria, que não devemos acreditar piamente nestes mentirosos.
Certeza mais certa Maria, que tudo farão para atirarem as revelações wikiliquianas, para o interior de um baú mais refundido, que o código deontológico que abandonaram ao pó.


http://www.counterpunch.org/cockburn12032010.html


Porque extraído em parte do resistir.info


Segue, também o apelo contido na carta aberta de Daniel Ellsberg, em que se condena a cobardia e o servilismo da Amazon ao terminar abruptamente a hospedagem do Wikileaks no seu servidor devido a pressões de um senador dos EUA.

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