27 de abril de 2011

Alfredo “Danoninho” Barroso





Perguntar-vos-eis a que propósito, adorno com tão nutritivo middle name, aquele a que por familiaridade, adoptamos como o primo da república portuguesa. Ainda que todos ou quase todos, por força dos nossos valores estéticos e idiossincrasia mediterrânica, sejamos incapazes de o guardarmos na nossa memória colectiva, nos mesmos preparos em que se nos apresenta a dita prima.
Afastado que me acho da actual actualidade (sem qualquer redundância), que me aborrece de tão repetitiva e pouco estimulante se nos apresentar, esbarrei
neste generoso e acutilante artigo, escrito pela pena daquele a quem venho dedicando o presente texto.
Lido o artigo, apoderaram-se de mim sensações semelhantes às que me fustigam e por vezes consomem, quando me deixo abraçar pelas bizarras personagens que povoam os universos cinematográficos de David Lynch ou Jean-Pierre Jeunet.
Dei por mim a imaginar um seráfico e sisudo orador, perante uma plateia generosamente disposta a acolher a emoção de um discurso que, merecendo ser lido a partir das entranhas da alma, segue num triste e apagado registo monocórdico. Em tons de cinza, como merecem tais prestações e correspondentes ouvintes, a cena vai-se desenrolando ao mesmo ritmo que o imposto pelos académicos quando a sua emoção, obstinada e teimosamente, se opõe à sua razão.
E segue assim o discurso até que muito tenuemente e contra a vontade do seu dono, o corpo se entrega à tarefa de denunciar o conflito interno entre, o esclarecido e o militante, primo da república.
A denúncia de tal compulsão adivinha-se pelos primeiros e involuntários cerrar de olhos, cada vez mais frequentes e cada vez mais prolongados. Perante a sua resistência, o corpo do orador não desarma e espalha a praga dos impulsos a movimentos involuntários da cabeça e dos bracitos, denunciando “le grand finale” que se avizinha, sem termos a certeza que ao mesmo pretendamos assistir.
E eis que entrado no capítulo reservado a Portugal, o corpo toma conta da mente, a emoção ultrapassa a razão e com pozinhos de perlimpimpim generosamente servidos pelo realizador da fatela película, se dá um estrondo e dissipando-se lentamente uma cortina de fumo que estas ocasiões exigem, se vão denunciando as formas a que as secretas vontades do orador o levam, podendo então vislumbrar-se em todo o esplendor que as lantejoulas lhe conferem, o sisudo orador travestido de bailarina de cabaré.
A plateia composta por estudantes ávidos em beberem sabedoria das palavras brotadas pelo orador, por cegos, por tolos, por mal amados ou gulosos e por crentes, divide-se entre aplausos, gargalhas e silêncios. Os estudantes ficam à rasca e resolvem logo ali que a coisa deve ser resolvida na rua, numa qualquer manifestação de enrascados. Os tolos e os cegos, aplaudem efusivamente tão ousado discurso. Os mal amados e os gulosos, entusiasmam-se com a travessura a com a possibilidade em visitarem o artísta na intimidade do seu camarim.
Os crentes, grupo no qual me incluo por vício e teimosia em acreditar, para além de qualquer evidência, nesta humanidade, ficam a pensar. “Só mais um bocadinho e chegas lá! Com Danoninho, hás-de lá chegar…”



P.S. Agora sem ironia. Entre muitos outros artigos produzidos pela intelectualidade do PS, que teima em mentirosamente se designar de socialista, este artigo apresenta-se como um verdadeiro “case study” da desonestidade intelectual lusa.



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