29 de outubro de 2010

Felizes são os tolos, que deles é o reino dos céus!




“Chegou esta manhã ao cais da Ribeira, no Porto, um padre que percorreu o rio Douro numa jangada em forma de Cristo. O padre Almiro Mendes levou três dias a fazer o percurso, de Santa Marinha do Zêzere ao Porto, numa viagem que procurou ser uma mensagem de esperança para um país em crise.”


Assim mesmo foi anunciada esta epopeia.

Um padre. Uma jangada em forma de Cristo. Três dias... de suposta privação e recolhimento. Em busca de quê? Da crença e da esperança.
Num país em crise e carente de grandes vultos, marcado pelo mito sebastianico, um raio de luz nos iluminaria, sem ironia ou humor, que o assunto é sério e as graças com Deus devem dar lugar às graças ao mesmo.
Contando em deparar-me com uma jangada em madeira do mais fino talhe, ornamentada com flores, rendas e oiros, num investimento suficientemente capaz de apaziguar um inesperado amuo do criador, um sacerdote trajando parcos agasalhos, suficientes para lhe cobrirem as vergonhas (que o paraíso deu lugar à crise), e esperando ser arrebatado por um olhar alucinado, de quem acreditando, se propõe a tamanha façanha, vejo-me confrontado com uma genuína surpresa, que nem os Monty Python, no seu melhor, me conseguiriam servir.
Um misto de Tino de Rãs, com José Maria Pedroto, numa sublime fusão entre a alegre parolice dos tolos e o pragmatismo e certeza daqueles que acreditam que as regras do jogo são controladas por uma entidade suprema. Eis o figurão, não lhe faltando sequer o boné.
Uma barcaça equipada com uma cadeira de esplanada e empurrada por um motor de pequena potência, estrutura feita de bolas de basket, envoltas numa malha de arame, dando ao conjunto uma forma de Gingerbread Man, que longe da imagem de Cristo anunciada pelo jornalista, confere ao conjunto um inegável respeito pelas leis da física, que nestes casos não há que menosprezar.
Talvez confiando em Deus, mas certamente desconfiando do Diabo, o padre exibe uma vuvuzela da qual extrai habilmente o som desejado e um daqueles megafones das feiras, capazes de imitar a sirene sinalizadora da marcha de emergência dos veículos prioritários, que em caso de distracção divina, se lhe apresentam (e bem, digo eu) como meios mais eficazes de pedir auxílio às três corporações de bombeiros que o acompanham, até à Ribeira do Porto.
À chegada, a sentença que me derrota o riso.
Para sairmos da crise e atingirmos o sucesso económico, precisamos de voltar a ter esperança e sobretudo, acreditar no ser humano.
Em qual?

No jornalista que viu Jesus Cristo num Gingerbread Man, feito de bolas de basket?
No comandante de qualquer uma das corporações de bombeiros que em tempo de crise, em vez de lhe colocarem um colete-de-forças e o encaminharem para o Magalhães Lemos, têm a desfaçatez de gastarem fundos nesta patetice?
No chefe de redacção ou director do  canal público de televisão que gasta recursos e energias neste delírio?
No rebanho que no destino, aguardava e aplaudia entusiasticamente o aventureiro?
Ou no próprio.?
Enfim, venha o Diabo e escolha.


2 comentários:

  1. Só Igreja Católica pode pedir reembolso do IVA

    O Governo prevê encaixar 100 milhões de euros com a alteração aos benefícios fiscais das instituições religiosas, porque o novo Orçamento do Estado prevê que só a Igreja Católica possa pedir o reembolso do IVA.
    Ou seja, com a alteração, foi suprimido a possibilidade de instituições de solidariedade social fora da Igreja Católica de poderem beneficiar do reembolso do IVA.
    A lei a aprovar diz, segundo o Ministério das Finanças, que "será restituído o IVA correspondente às aquisições e importações efectuadas por instituições da Igreja Católica - Santa Sé, Conferência Episcopal, dioceses, seminários e outros centros de formação destinados única e exclusivamente à preparação de sacerdotes e religiosos, fábricas da igreja, ordens, congregações e institutos religiosos e missionários, bem como associações de fiéis".
    Apesar disso, todas as instituições de cariz religioso continuarão a beneficiar da consignação de 0,5% do imposto sobre o IRS, liquidado com base nas declarações anuais, para fins religiosos ou de beneficência, a uma igreja ou comunidade religiosa radicada no país, bem como a favor de uma pessoa coletiva de utilidade pública de fins de beneficência ou de assistência ou humanitários ou de uma instituição particular de solidariedade social, que indicará na sua declaração de rendimentos.

    De acordo com o Ministério das Finanças, "a medida agora proposta visa equilibrar os dois regimes, tendo em conta as preocupações associadas à racionalização da despesa fiscal".
    Ateus contra discriminição positiva para Igreja Católica
    A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) criticou hoje o Governo por retirar os benefícios fiscais às instituições religiosas, embora mantenha "esses privilégios" à Igreja Católica, uma decisão consagrada na proposta do Orçamento do Estado e que a instituição considera discriminatória.
    Também a Associação República e Laicidade considerou, em comunicado, "incoerente, lamentável e discriminatório que o Governo não revogue igualmente as disposições da Lei 20/90 aplicáveis à Igreja Católica, criando assim uma discriminação positiva exclusivamente a favor dessa comunidade religiosa".

    Jornal Expresso, 25 de Outubro de 2010

    ResponderEliminar
  2. Isso ajuda a perceber este entretenimento por parte do beneficiados...

    ResponderEliminar