28 de novembro de 2010

27 de novembro de 2010

Greve Geral - Rescaldo II




Nunca se afigurará tarefa fácil a análise dos resultados da adesão a uma determinada greve, tratando-se ainda para mais de uma greve geral, afectando todo o aparelho produtivo de uma nação, quer na sua componente estatal, quer também na sua vertente privada.
É pueril ou mal intencionado, pretender estabelecer a ideia que o número de trabalhadores que aderiram à greve é precisamente igual ao número de trabalhadores que assim o desejavam, por acharem a greve justa e legítima.
Dito por outras palavras. É demasiado evidente, mesmo dispondo de toneladas de informação e capacidade para a ler e interpretar correctamente, que nunca será possível a qualquer analista concluir que o universo de trabalhadores que aderiram à greve, representa exactamente o conjunto daqueles que queriam fazer greve.
Existe uma caixa negra entre a vontade que cada trabalhador tem, ou não tem, em aderir à greve (input) e participação nessa mesma greve (output).
Pode-se até transportar o atrás citado input, mais para montante, pois da aludida caixa negra farão também parte os mecanismos que levam muitos trabalhadores a não terem vontade de fazer greve, apesar de reconhecerem válidos e justos os motivos que levaram à sua marcação.
Classifico pois como caixa negra, este mecanismo condicionador da vontade e da consciência dos indivíduos, sendo essencialmente composto por factores exógenos aos mesmos. Sendo fácil elencar alguns dos elementos da sua engrenagem, mais difícil resultará a descrição da dinâmica intrínseca a esta máquina modeladora de consciências e vontades, motivo que me levou atrás, a designá-la por caixa negra.
Estando a correr o risco de parecer querer incluir apenas os elementos ou factores condicionadores da participação na greve, reconheço desde já que também haverá os que “empurram” alguns dos trabalhadores para a luta, apesar da sua escassa vontade ou ténue motivação, porque ancorada numa fraca cultura de classe.
Nestes casos surgirá como factor de reforço a ostentação da vontade da maioria, o trabalho de formiga do delegado sindical ou a acção do piquete de greve, como reduto último dos trabalhadores em protesto e exigindo o mínimo aos restantes camaradas de trabalho – a sua solidariedade.
Creio contudo ser legítimo assumir que, colocados em oposição nos pratos de uma balança capaz de medir tais grandezas, os aspectos atrás citados, facilmente sairão derrotados, por comparação a todos os factores avessos ao conceito de greve e constrangedores da sua prática, resultando tal medição num desequilíbrio capaz de produzir danos irreparáveis em tão útil instrumento de medida. Senão vejamos:
Patrões, gerentes, directores, chefes, encarregados e caciques, com todas as suas ameaças veladas, repetidas em surdinas inacabadas ou em monólogos impositivos. Empresários, economistas, políticos do mainstream, fazedores de opinião e jornalistas quase todos, transportando consigo as teorias da inevitabilidade, da ameaça do FMI, da ruptura da segurança social ou da falência do conceito de Estado de Providência (Welfare State, mesmo para a pátria que pariu o neo-liberalismo). Todos juntos, com a voz devidamente amplificada por uma comunicação social amestrada, apresentam um peso bruto capaz de sufocar sem grande esforço, as vozes roucas e cansadas de quem ainda não desistiu da denúncia de tais falácias.
Mas os bravos trabalhadores portugueses que partem para as greves, não se vêem somente obrigados a vencer as más consciências produzidas pelo evidente desequilíbrio atrás descrito.
Como se tal não bastasse, no pindérico Portugal de hoje, os portugueses e portuguesas que decidam fazer greve, habilitam-se a ser premiados com os simpáticos apodos de insubordinado, calaceiro, egoísta ou inconsciente e caso tal não se mostre suficiente para beliscar a sua dignidade, são então apelidados de sindicalistas profissionais ou até comunistas.
É vê-los, os pelintras de merda, alçados na soberba da sua ignorância, a rirem-se, a olharem com desdém e ar de gozo, aqueles que na rua se manifestam por ambicionarem um Portugal melhor para todos. A mesma corja de cretinos que povoa os espaços abertos aos comentários, nas edições online da pobre imprensa deste país.
Tudo isto é triste, tudo isto é fado…

Portanto, não me lixem.
Fazer greve em Portugal é cada vez mais difícil e quaisquer que sejam os números que ilustrem a adesão, por mais exactos que aparentem ser, pecarão sempre por defeito, por esquecer aqueles que se vergaram ao peso do sistema.
Por esquecer aqueles que contornando o piquete de greve, seguindo de olhos no chão, temeram cruzar o olhar com alguns dos seus camaradas. Por olvidar aqueles que vencidos pela vergonha, mas mais derrotados ainda pelo medo ou pelo preconceito, se acharam moralmente obrigados a trabalhar, sendo pertinente questionar a amplitude da liberdade com que exerceram a sua jornada de trabalho.
Aos restantes, àqueles que acharam conscientemente que melhor seria trabalharem, porque as nefastas políticas seguidas nada lhes dizem ou em nada os afectam, ou tão pouco reconhecem na acção deste miserável governo, algo de mau, ainda assim, o meu respeito. O mesmo respeito em temops idos guardado a quem ousava manifestar-se. Respeito sentido, mesmo entre aqueles que não se achando na condição de manifestarem o seu desagrado pela situação vigente no país, reconheciam valor a quem desafiava.
Para os outros, os pelintras e ignorantes que se acham capazes de gozarem o prato, temos encontro marcado…

26 de novembro de 2010

Greve Geral - Rescaldo I




A pretensão de discutir a greve em números é, no mínimo, audaz.
Quando tal desiderato é assumido e materializado por políticos ou jornalistas, a tragédia está assegurada. Sem grandes males, pois que na maioria das vezes assume contornos cómicos, sendo a plebe premiada com pérolas como o anúncio triunfal que o governo protagonizou, ao concluir que a greve não foi um sucesso, por ter sido parcial.
Entramos em definitivo na era digital em que somente assumem valor, os zeros e os uns.
Entre zero e cem nada existe.
Talvez um número acima de três milhões, dir-me-ão outros, obrigando-me a responder que achando a cifra bonita, a vejo como uma hábil fuga à quantificação relativa, da qual por deformação profissional, não abdico.
Não desejaria contudo abandonar o festim dos números sem antes realçar um pequeno aspecto, onde provavelmente radicará a maior dificuldade na contagem dos aderentes à greve e de onde resultarão (na maioria das vezes conscientes) os desvios e desencontros nas contagens.
A definição do universo dos trabalhadores que no dia da greve são efectivamente esperados (espectáveis) e em consequência da sua definição, a aferição exacta da quantidade relativa de trabalhadores em greve.
Não valerá contar trabalhadores de baixa, de folga, em descanso, integrantes de serviços indispensáveis e urgentes e também aqueles que estão em formação profissional, à qual e por mero acaso, nesta semana se assistiu a um “boom”.

Importará pois uma análise qualitativa, que incida sobretudo nos aspectos positivos e negativos que esta greve geral ajudou a revelar e/ou confirmar, tendo sempre em atenção que a base de descontentamento não pode ser toda ela medida por igual.
Na verdade os trabalhadores não são lesados nos seus direitos de forma homogénea, recaindo os mais nefastos efeitos das recentes opções do governo, os cortes salariais, apenas sobre uma minoria dos trabalhadores portugueses, somente sobre uma parte dos funcionários públicos, não sendo portanto de estranhar uma mais modesta adesão dos trabalhadores do sector privado.
Ainda assim, vista sob este prisma e tendo em consideração que esta terá sido a maior greve geral a que Portugal assistiu, não tenho reservas em considerá-la como uma iniciativa de grande alcance e sucesso muito satisfatório.
Na área da educação foram inúmeras as escolas que não abriram.
Na justiça assistiu-se pela primeira vez e com considerável adesão, a uma greve dos funcionários da investigação criminal da Polícia Judiciária.
Na saúde, sector mais melindroso no que à participação na greve se reporta, os números apresentam-se muito acima do usual.
E no sector dos transportes colectivos o sucesso foi quase arrebatador. Tendo-se rompido em definitivo com a muralha dos serviços mínimos. E com uma paralisação total, assistiu-se a uma dinâmica muito próxima da tradição grevista de outros países da Europa.


25 de novembro de 2010

24 de novembro de 2010

Quem cala consente



Zeca Afonso - Os Vampiros






No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés de veludo
Chupar o sangue Fresco da manada

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]

A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]

No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]

São os mordomos Do universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a ronda No pinhal do rei

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]

Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]

Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]



23 de novembro de 2010

Porque a greve começa de véspera

Porque a greve começa de véspera.
Hoje é dia de ir às compras, comprar o leite, o pão e tudo o resto. Amanhã não bastará fazer greve, teremos também de mostrar àqueles que não aderiram à greve, que mais valia terem ficado em casa.
Que sentido faz a greve, se ao mesmo tempo justificamos o trabalho dos outros?
Greve é também dizer não aos transportes, não às compras, não aos jornais, ao entretenimento, à televisão e até às telecomunicações!
É dizer não ao consumo!

Não ao logro dos serviços mínimos.

Não ao estigmatização dos piquetes de greve.

Mais que tudo a greve é um grito de insatisfação e revolta.
É como que um: "Assim não dá mais!"
É quando se atira o engenho por terra, se limpa o suor da testa e se olha os camaradas esperando que nos compreendam e nos sigam.

Qual negociação ou chantagem com a entidade patronal.
Esta greve geral, mais que qualquer outra, terá que corresponder ao grito de revolta dos trabalhadores portugueses, que pela enésima vez são chamados a pagarem uma crise da qual serão os menos responsáveis.
E não nos venham dizer que a culpa é de todos nós. Que andamos a viver acima das nossas possibilidades.
Pois fiquem sabendo que com essa não nos enganam mais. Não é, Maria?
As famílias portuguesas estão demasiado endividadas? Pois estão.
Mas dá jeito que assim estejam.
Enquanto tiverem a prestação da casa para pagarem. Mais a prestação do carro e do computador.
Mais o LCD e o colégio dos filhos. Enquanto a isso os obrigar a sua dignidade, os portugueses estão aprisonados.
Estão impedidos de fazerem uma verdadeira greve.
Sim uma daquelas greves que só os miseráveis souberam fazer. Uma greve por tempo indeterminado. Uma greve que findasse com o fim da injustiça.
Esses sim, não tinham nada a perder. A fome, o frio, a ignorância, a miséria e o medo que premiavam o seu trabalho, deu-lhes a força e a coragem para mudarem.
A greve como expressão fiel da liberdade, o abandono do posto de trabalho, como verdadeiro gesto emancipatório. A greve era a conquista da liberdade.
E hoje o que é a greve?
Estamos mais agrilhoados que outrora. Não passamos de uns miseráveis burgueses reféns do nosso parco salário. Com medo que o FMI nos entre pelas portas adentro, sem nos apercebermos que o FMI é uma finta...







21 de novembro de 2010

NATO – Braço armado do capitalismo

Porque uma vez mais a cultura do medo venceu.
Porque de liberdade apenas gozaram as forças da ordem, permitindo-se-lhes que actuassem como forças de repressão.
Porque a esquerda deste país parece estar contente com a possibilidade de ir para a rua de cravo na mão a horas certas, sem se dar conta que vai para a rua de cravo na mão a horas certas.
Porque o silêncio e a mentira assumem proporções gigantescas.
Porque muita coisa ainda há por contar.
Voltaremos a este assunto. Até lá...




19 de novembro de 2010

Cimeira: Três polícias feridos em acidente



Cimeira: Três polícias feridos em acidente - in Correio da Manha, 19/11/2010


Parece que o acidente se deu ao perseguir dois grupos de pessoas em zonas diferentes da capital, que se preparavam para participar na manifestação de amanhã em Lisboa. Identificados como extremamente perigosos, serão alegadamente pertencentes aos "Black Block" e perfeitamente identificáveis nas fotos. 





17 de novembro de 2010

LUTO POR PORTUGAL

Detido casal suspeito de pertencer aos Black Bloc

A detenção ocorreu após a fronteira de Caia. O casal passou um "checkpoint" do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, mas foi novamente abordado por militares da GNR das equipas de investigação criminal à civil, que revistaram o carro. Na mala foram encontradas várias peças de vestuário preta, uma indumentária usada pelo grupo "Black Bloc" nas manifestações. O homem e a mulher foram entregues ao SEF, que os expulsou de Portugal.

in DN 17/11/2010



Dia 20, vens Maria?


16 de novembro de 2010

ESTÁ SUSPENSA A DEMOCRACIA EM PORTUGAL!



Sob o lema "alta visibilidade/forte ostensividade", começou hoje, prolongando-se até ao dia 20, a operação da PSP de segurança da Cimeira da NATO, que obrigará a diversos constrangimentos e condicionamentos de trânsito e de pessoas.
in Agência Lusa, 16/11/2010

A GNR deteve hoje, terça-feira, de madrugada, duas pessoas na fronteira do Caia (Elvas) que tinham armas brancas e vários panfletos com mensagens anarquistas e anti-polícia.
in JN, 16/11/2010

Apesar da lei em vigor não proibir que um manifestante oculte a sua identidade cobrindo a cara ou a cabeça, a PSP vai deter qualquer pessoa que o faça nos desfiles e manifestações anti-NATO previstas para os próximos dias. Os principais suspeitos têm um nome: anarco-libertários.
in DN, 16/11/2010


Foram-nos aos salários e ao bolso, fecharam-nos as fronteiras, sendo presos cidadãos por possuirem panfletos anarquistas e canivetes. A polícia já assume alta visibilidade e forte ostensividade, percebendo eu o que isso significará, que já há alguns anos me dedico a decifrar os enigmas de linguagem dos caciques e cães de fila.
Adivinha-se para breve, a Lei Marcial e o recolher obrigatório. Demos-lhes o pretexto!


Manuela Ferreira Leite, estará à beira do orgasmo!


ESTÁ SUSPENSA A DEMOCRACIA EM PORTUGAL!


Perdoe-me a senhora que não sendo a única, foi quem teve a coragem (ou desfaçatez) de publicamente assumir tão infame desejo, tendo agora que se conformar com a forte probabilidade de, no presente muitos milhares de portugueses, mais incidiosamente atentos, se lembrarem de quanto estas medidas a estarão a consolar.


Por ano são sequestrados ou desaparecem, centenas, senão milhares de cidadãos em território nacional, entre os quais muitas crianças e jovens adolescentes. Nunca as autoridades fecharam as fronteiras. Aliás, não têm sequer um plano de contingência articulado com todos os orgãos de polícia criminal, a fim de estanderizarem procedimentos.
Todos os fins de semana, claques organizadas de meleantes desfilam ao longo das ruas e avenidas deste país, provocando tudo e todos, agredindo quem lhes apetece e danificando aquilo que os estorva, sendo nessa "inócua" actividade, escoltados pelos merdas que agora reclamam ostensividade.
Muitos mais seriam os exemplos que cada um de nós poderia aqui trazer para ilustrar a filha da putice que representa a actual postura das autoridades políticas e policiais.


Percebe-se que este registo fascizoide seja caro à direita portuguesa e aos saudosistas que elegeram o António Mau de Santa Comba, para luso do século XX. Ouvem-se até os aplausos com que os reaccionários deste país, assinalam o regresso da torpe democracia musculada, antecâmera de regimes na esteira dos que enbruteceram a Ibéria do século passado. Entende-se que este registo seja do agrado de alguns corpos de polícia, com uma cultura institucional marcadamente securitária (dos quais se poderá eventualmente excluir a polícia judiciária).
Para os patetas de esquerda que tenham dúvidas, assumo:
Entre as minas anti-pessoais, auto-tanques, helicópteros, caças, caça-bombardeiros, navios e submarinos. Entre bombas, mísseis, granadas e metralhadoras de assalto, escolho as fisgas, a tinta, os slogans e os graffitis. Entre as pedras da calçada, os cocktails molotov, os carros de patas-para-o-ar e as montras partidas, escolho todas estas.
Porque lhes conheço os efeitos, porque não consigo sequer comparar-lhes os danos ou nefastas consequências em termos de perdas de vidas humanas.
Rejeito portanto, a cáfila de criminosos engravatados que se preparam para aterrar na Portela e dou as boas-vindas a todos os outros, incluindo àqueles que acreditam que partindo algumas montras, farão soar melhor o seu grito de revolta.
Não tenho dúvidas entre quem escolher, até porque não me acho com pretensões a Prémio Nobel da Paz, que por sinal...

Singela homenagem às forças da ordem




15 de novembro de 2010

Cimeira da Nato em Portugal viola Constituição da República Portuguesa.

Artigo 7º
(Relações internacionais)
1. Portugal rege-se nas relações internacionais pelos princípios da independência nacional, do respeito dos direitos do homem, dos direitos dos povos, da igualdade entre os Estados, da solução pacífica dos conflitos internacionais, da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados e da cooperação com todos os outros povos para a emancipação e o progresso da humanidade.

2. Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos, bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos.

3. Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão.


14 de novembro de 2010

Muito mais à frente!





Que coragem!
Segundo esta gente, coragem é impor medidas impopulares (ponto final).
Abrindo aqui espaço a adjectivações, apetece-me dizer-lhes. O tanas é que é. Coragem seria se exigissem a quem realmente pode pagar a crise, que curiosamente também se pode identificar com quem deveria pagar a crise, por ser seu maior responsável.
Mas estas bestas assim não pensam ou pelo menos não o mostram. Mas melhor seria que, ao menos, estivessem caladitos. Se ao menos, com o discrição a que a cobardia obriga e aproveitando a posição encontrada para satisfazer os gulosos interesses da banca, seguissem o exemplo do digno e aparentemente mais perspicaz convidado que ilustra o presente post...
Mas nada disso, estas alimárias ainda se dão ao desplante de publicitarem tais intenções.
Só apetece bater-lhes.

13 de novembro de 2010

Querem, pagam!




“…as escolas com contrato de associação saem mais barato ao Estado, na medida em que gerem mais eficazmente os fundos públicos.”
“…ao forçar o encerramento de escolas não-estatais, está a diminuir a liberdade de escolha dos pais, reforçando o papel do Estado enquanto agente quase exclusivo da oferta educativa. Num país onde não existe verdadeira autonomia nas escolas estatais (contratação, curriculum, gestão dos fundos), isto é ainda mais grave, pois significa que milhares de jovens não podem usufruir de um ensino melhor indicado para as suas necessidades educativas.”


por Alexandre Homem Cristo Expresso online, 09/11/2010



Importará aqui tecer algumas considerações sobre um artigo do Expresso Online, de 09/11/2010, assinado por Alexandre Homem Cristo, cujo nome aliás, deve considerar-se ajustado ao personagem, sendo pertinente questionar se é o primeiro a fazer jus ao segundo, se o sujeito a pretender, esforçadamente, merecer a designação.
Porque não gosto de sofismas, nem de manhosos incapazes de assumirem ao que vêm. Porque não uso subterfúgios, nem falsos argumentos.
Porque não escondo o que sou, de onde venho, nem ao que venho, assumo desde já e sem dissimulações, que não encontro qualquer utilidade na existência de um sector privado para a educação.
Assim como também não encontro "mais valias" na privatização dos cuidados de saúde. Como de igual modo abominaria que o Estado abdicasse de parte da tutela na Justiça, entregando-a a interesses particulares (e por favor não me digam que ando distraído).
Assim como com os meios de difusão da informação ou cultura, assim como com a extracção e exploração de recursos naturais, assim como a produção de engenhos militares e de destruição massiva, assim como… tudo o que por razões evidentes, considero que deveria estar sob a tutela exclusiva do Estado.
Serão estas considerações, às quais a história já declarou o fim (pronto, podem dizer que ando distraído,) que por virtude minha ou vício em fugir às convenções, tenho conseguido fintar, cumprindo o destino reservado aos sobreviventes do massacre neo-liberal.
Mas são as minhas considerações e não as escondo, ao contrário de certos Homens, que ao invés de Cristo, atiram as pedras e sem a dignidade dos grandes, escondem as mãos, como se não fossemos capazes de identificar a voz do dono, que do alto do púlpito lava as mãos como Pilatos.
As escolas com contrato de associação são escolas não-estatais (i. e. de posse privada), cumprindo portanto o papel que lhes caberá numa sociedade que aceita a exploração do trabalho e vê na nobre e imprescindível actividade que deveria ser educar, a oportunidade de daí extrair dividendos.
Aceito que neste contexto e suprindo lacunas herdadas de um regime ditatorial e retrógrado que nem tão pouco reconhecia os méritos da formação e do conhecimento, o Estado tenha tido a necessidade de se socorrer desses estabelecimentos de ensino, garantindo assim uma tardia universalidade no acesso a níveis mais elevados de educação.
Sempre com a consciência, por parte de todas as partes (Estado, estabelecimentos de ensino, encarregados de educação, pais, alunos e professores) que esta seria inevitavelmente, uma solução transitória, até que o Estado garantisse por si, e com recurso aos seus próprios meios, o desejo que Abril impôs. Nem de outra forma faria sentido. O Estado deve cumprir com o preceito da universalidade no acesso a todos os níveis de ensino, em todas as parcelas do seu território.
Nunca faltando os dogmas neo-liberais (esta sim, uma cassete), vem o Alexandre defender que as escolas com contrato de associação saem mais barato ao Estado, porque gerem mais eficazmente os fundos públicos. Deixe-me que lhe diga umas coisas.
Tenho muitas dúvidas que assim o seja, tanto mais que as contas não podem ser feitas comparando os gastos por aluno, antes do fluxo do público para o privado, mas sim depois. Passo a explicar. Os cortes apenas se vão processar em locais onde já existem escolas públicas.
Sem acréscimo na despesa ou no pior dos cenários com aumento pouco significativo, o Estado vai albergar os tais alunos na rede pública já existente, fácil não é? Ficamos todos a ganhar.
E sem remorsos. Que com tão engenhosa administração e habilidade em gerir fundos, as escolas privadas não terão dificuldades em sobreviver, tanto mais que apenas ficarão com os alunos pagantes, já que o parco dinheiro que recebiam do Estado era todo ele espartanamente gasto com os alunos convencionados.
Compete pois a quem se propõe mercantilizar a educação, submeter-se às impiedosas regras do mercado. Regras essas que, enquanto tantos como eu poderem, imporão o Estado como o mais forte protagonista, não podendo sequer ser encarado pelos restantes parceiros, como concorrente.
A estes (que têm nome, não esqueci…), restarão nichos de mercado cada vez menos desprezáveis.
Os seus “targets” estão bem identificados. São os snobs que preferem um ensino de excelência, as tias que buscam aquele colégio chique e elitista, as famílias conservadoras ainda reféns da trilogia Deus, Pátria e Família, e os demais pais, reféns do medo e da evidente degradação da escola pública. Medo dessa pseudo-novidade a que chamam “bulling”.
Medo e terror, difundidos até à exaustão, nos quais se podem albergar os chineses da loja do bairro, os “gangs” da cidade, os “ciganos” da província, os “cabeças-rapadas” da margem norte, os “pretos” da margem sul, os terroristas islâmicos do Médio Oriente, os terroristas das FARC na América do Sul, e até os medos do Verão e do Inverno, os nefastos raios U. V. e a sinistra Gripe A.
E assim cheios de medo e descrentes nos atributos do ensino público, temos sido encaminhados, que nem carneiros, para o ensino particular. Restando-nos o consolo, na maioria das vezes, de vermos os nossos filhos bem mais perto do Senhor.
Radicará aqui a motivação daqueles que o Alexandre representa, sendo outra que não a economicista, a preocupação que o artigo não assume.
E não assume, porque a aborda na perspectiva dos coitados dos pais, que vêm o Estado interferir na liberdade de escolha do projecto educativo para os seus filhos. Não se preocupando sequer em restringir ao lote dos pais contemplados com tal benevolência do Estado, aqueles que se apresentam com menos recursos, chegando a sua falta de vergonha, a pontos de acudir a esse mesmo Estado, para que patrocine a todos, independentemente da sua condição económica, a educação em escolas alternativas.
Para quem verborreia contra o socialismo, não está nada mal! Percebendo-se-lhe contudo a origem de classe e vícios de quem, satanizando o Estado, se vai habituando a parasita-lo.
Na verdade ficar-lhe-ia melhor assumir ao que vem.
Assumir a defesa dos projectos educativos, a esmagadora maioria das vezes, estritamente ligados às igrejas ou alta finança. Projectos, onde na maioria das vezes se cala o livre arbítrio, se adormece a consciência colectiva, se espartilha a diferença cultural, se apaga o arco-íris das idiossincrasias, povoando-se o mundo entre fieis e infiéis, defensores da liberdade e terroristas, entre democratas e comunistas, pintando-se a humanidade de branco e preto, situando-a algures entre o céu e o inferno.
Mas de onde todos saem tecnicamente bem formados, aptos e capazes de perseguirem a sanha da burguesia ou pelo menos, acreditando que sim.


Outras reveladoras citações,


“As escolas particulares não são supletivas do ensino oficial. São um direito reconhecido e uma forma enriquecedora e feliz de o Estado cumprir o seu dever neste campo. Muitas delas permitem já aos pais a liberdade, ainda que relativa, de escolher a escola para os seus filhos, em regime de ensino gratuito e de igualdade.”

por António Marcelino - Bispo de Aveiro DN, 28/07/2004


“O projecto educativo nestas escolas já está previamente definido, aponta Acácio Lopes, representante da Escola Católica, e professor no Externato de Penafirme, Escola Diocesana do Patriarcado de Lisboa. “O ensino nas escolas católicas é baseado no evangelho” afirma, “não há separação entre a opção religiosa e a opção de vida em geral” esclarece, pautando todo o ano lectivo por esta constante. “Do ponto de vista curricular somos obrigados a seguir os currículos nacionais. O modo como os temas e as estratégias pedagógicas são implementadas, é que terão uma marca específica, interpretada à luz da fé cristã”.”

IN AGÊNCIA ECCLESIA, 14/09/2006



12 de novembro de 2010

Porque a hora é de luta, Maria!




Maria, tenho a certeza que gostaste.


O ska punk é transgressor, alegre e apaixonante. Sobre a origem deste som e não sendo musicólogo, socorro-me de um interessante apontamento com que me deparei:
“Ska Punk é a junção destruidora de dois estilos. Como se o pré-reggae jamaicano encontrasse o punk inglês e resolvessem tirar um som na rua.”
Radicará nesta génese, o descomprometimento formal ou de estilo que o ska punk apresenta, conferindo-lhe uma matriz irreverente e contagiante.
Os SKA-P e oferecem-nos isso e muito mais. Pulpul, Luismi, Julio, Joxemi, Kogote e Pipi, oferecem-nos a força das palavras, a expressão da revolta e a denúncia, sem concessões nem constrangimentos.
A generosidade empregue e o gozo daí extraído por cada um dos membros que integram a banda, tornam-na tão genuína que ao público apenas resta a retribuição, até que o corpo ou a voz, não mais o possam, e em que cada concerto é sentido como se fosse o último. Uma retribuição avassaladora e descompensada, feita de “moches”, gritos, abraços, corpos dançando freneticamente, punhos erguidos e a certeza que encontraremos a formula de mudar o mundo.


Pronta para o combate?
Porque a hora é de luta, apresento-te de seguida Boikot.



10 de novembro de 2010

A propósito da visita do papa a Espanha




Começa a intrigar-me a propensão escatológica que apresentam as conferências de imprensa papais, quando efectuadas na santa aeronave.
Será que por divino obséquio e em dias de mais forte canícula, lhe é permitido voar, à dita santa, de janelas abertas.
E será que Bento 16, passados todos estes séculos, num exercício de teimosia habitual, ignorando as conclusões de Arquimedes, no que às peculiares propriedades os fluidos apresentam, arrisca-se a verbalizar pensamentos tidos em ambientes rarefeitos.
Desta feita, comparando o anticlericalismo espanhol dos anos 30 com o seu actual secularismo, de dente afiado e sem qualquer respeito pelo povo que o recebe, pretende o prosélito, de uma assentada só, malhar naqueles que na Espanha actual viram costas à Igreja e vitimizar todos aqueles que, às costas da mesma Igreja, na Espanha de ontem, malharam no povo espanhol.
Mais apetece atribuir ao valente Bento 16, o epíteto de B16.
Claro está que a sua idade já lhe vai toldando os ímpetos e fraquejando as investidas, pois da voracidade empregue na forma como se atirou ao laicismo, resultou um valente trambolhão, do qual nem os sapatos Prada o livraram.
Não é que o dito, no seguimento de tal desmando, deixa escapar o que verdadeiramente lhe fustiga a alma, traindo a moderna retórica da sua Igreja.

Eu não diria melhor.

8 de novembro de 2010

Destas medidas é que o povo gosta, eis o milagre da multiplicação dos pães (ou de como a mentira tem perna curta)





A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição estimou já que a decisão de harmonizar os horários dos estabelecimentos comerciais vai permitir criar 8000 empregos e que terá um impacto de 2,5 mil milhões de euros até 2017.     in Agência Financeira, 24/10/2010

Luís Reis, da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição, não acredita num aumento significativo de lucro: "O número de consumidores é o mesmo e os rendimentos também. Haverá é mais tempo para escolher quando se quer ir às compras.   in DN Economia, 25/10/2010



O alargamento de horário de abertura das grandes superfícies vai permitir a criação de 8000 (leu bem, oito mil) novos empregos, bem assim como um impacto de 2500000000 € (são muitos zeros? Não conseguiu ler bem? Escrito de outra forma - 2,5 mil milhões de euros) até 2017 – seja lá o que for o impacto.
Todavia e por outro lado, esta medida tão auspiciosa, não passará (segundo os próprios) de um generoso acto de altruísmo, passe a redundância, ajustada ao generoso contexto a que se reporta. Na verdade as grandes superfícies comerciais não terão um aumento significativo dos lucros, já que o consumo não aumentará, nem tão pouco os rendimentos.
Pelos vistos apenas haverá uma mais cuidada distribuição - no tempo - dos clientes pelos ditos espaços comerciais.
Eis onde radica a filantropia do tio Belmiro, esse ilustre mega merceeiro e de seus comparsas.
Na verdade, abdicando de um aumento significativo do lucro, estes senhores propõem-se facultar, aos portugueses, mais tempo para fazerem as suas compras, nem que para tal tenham de contratar novos empregados.
Acredite quem quiser.
Tanto mais quanto, facilmente se concluirá que havendo sensivelmente o mesmo número de clientes, a sua afluência será mais dispersa, possibilitando uma melhor redistribuição dos empregados pelos diferentes postos de trabalho. Nesta manobra radicará o dito milagre da multiplicação.
Com sacrifício dos seus trabalhadores, estas empresas alargarão o seu horário de atendimento, apostando numa fidelização e dependência cada vez maiores dos consumidores, em detrimento do comércio tradicional, incapaz de esgrimir argumentos, contra tais opositores.
Claro está que não faltarão tias a acharem ultra, hiper ou mega vantajoso, terem a possibilidade de fazerem compras a qualquer hora do dia ou a qualquer dia da semana. Não deixarão de existir yuppies a acharem digna de modos de organização planificada da economia, a imposição de regras de higiene no consumo. Claro que sobejarão os intelectuais liberais achando atentatório da liberdade individual, que o Estado pretenda impedir os cidadãos de fazerem compras ao domingo à tarde. Cidadãos coitados, que por vezes apenas dispõem desse dia de domingo para se entregarem à árdua tarefa que é a recolha de vitualhas, porque no restante do seu tempo trabalham ou a espaços, descansam.
Para todos estes não restarão dúvidas que o problema radica nesse malvado Estado putativamente socialista que os oprime, ao ponto de pretender roubar-lhes o tempo que o domingo lhes reservou para as compras.
Maria, compete-te, uma vez mais, escolher entre dois caminhos, prevalecendo mais que na maioria das vezes, a tua intuição.
Intuição de mulher, de trabalhadora, de mãe, de dona de casa, ainda e quase sempre subjugada aos impulsos de uma sociedade patriarcal, que na história reservou o culto para domingo, num passado recente abriu alas à alienação colectiva com o entretenimento da bola ao domingo e agora quer impingir-te também, o consumo para domingo.
Cabe-te fazer a escolha entre a liberdade ou a mecanização, entre o livre arbítrio ou a imposição de modelos comportamentais, entre o usufruto do pleno descanso ou a substituição deste por rotinas roubadas ao tempo que lhes reservavas num passado ainda recente.
E se para tal precisares, lembra-te.
Será a pensarem em ti, que o tio Belmiro e seus comparsas, abrem as suas mega mercearias ao domingo?