30 de março de 2011

Entrevista a Lula da Silva


A homenagem da televisão pública argentina a Lula da Silva, um documentário sobre o homem do povo, o político, o dirigente que transformou o movimento sindical numa luta nacional pela superação dos oprimidos. Destaca alguns aspectos menos conhecidos da sua vida e acções governativas, o movimento sindical, o aspecto humanista e social que fez dele um exemplo para muitos brasileiros. Lula da silva diz ter a convicção que se está a fazer uma revolução no Brasil, facto que é reconhecido pelos mais pobres. Para muitos, não realçar a importância dos feitos de Lula da Silva é passar ao lado da história. 





29 de março de 2011

Pode estar na hora da esquerda


Por uma esquerda unida fazem-se petições, surgem movimentos e opiniões acerca de uma coligação pré-eleitoral dos dois partidos que representam a esquerda portuguesa, PCP e BE. Pode estar hora de apresentar soluções de governação, dizer aos cidadãos portugueses que podem contar com eles. Mais, sente-se que o povo quer ouvir propostas alternativas.

Evidenciar, que os dois partidos não vão passar ao lado do actual momento do país, que se encontra num estado grave e vão unir forças para uma alternativa de esquerda que mobilize o povo português. Apresentando um projecto político, credível e competente, mostrando que existem outras políticas económicas para combater a crise. Evitando que a direita fique com todo o poder, arrasando ainda mais o país e acabando com o que resta do nosso estado social.

O PS rejeitado pela direita PSD/CDS e rejeitado pela esquerda PCP/BE, poderá obrigar alguns eleitores socialistas a uma reflexão para mudar de políticas e convergir à esquerda.

Todos sabemos que existem diferenças entre os dois partidos, mas neste contexto é fundamental evidenciar o que os une. Se nada for feito, PCP e BE poderão ser acusados de fugir às suas responsabilidades quando o país e o seu povo mais precisam. Parece cada vez mais necessária uma forte alternativa política e social.

Se a esquerda não conseguir ajudar-se a si própria, não conseguirá ajudar o país. Os partidos devem servir o povo. A esquerda deve dar uma resposta clara num momento tão determinante para o futuro de Portugal. Aproveitar o grande poder de mobilização dos movimentos sindicais e que deveriam unir toda a esquerda, só na última greve geral participaram cerca de três milhões de pessoas.

Coligação CDU/BE = ?  + Independentes + Mov. Cívico + Mov. Sindical = ?

Pode estar na hora!


Obs. A ordem dos símbolos partidários da imagem é apresentada de forma a respeitar a coligação já existente.


Greve no Metropolitano de Lisboa


Os trabalhadores do Metro de Lisboa voltaram a fazer hoje uma manhã de greve contra os cortes salariais. Esta luta ainda está em aberto e o desfecho dependerá certamente da capacidade dos trabalhadores para endurecerem as formas de luta. Independentemente disso os trabalhadores do Metro conseguiram ao longo dos últimos uma vitória importantíssima: já ninguém lhes impõe serviços mínimos. No Metro quando se faz greve é a doer!


24 de março de 2011

Porque é que os EUA não andam muito interessados em comandar o ataque à Líbia, porque é que os italianos, franceses e ingleses não se entendem sobre como e com que objectivos bombardear o país e porque é que a Espanha também anda metida ao barulho






O gráfico acima é elucidativo. Representa as exportações de petróleo líbio em 2010 segundo a Energy Information Administration dos Estados Unidos.

Em 2010, 23,3 % do petróleo importado pela Itália veio da Líbia que é o seu principal fornecedor desta matéria prima.

Já para a França, o petróleo líbio representa cerca de 15% das importações de crude, sendo a Líbia o segundo fornecedor da França a seguir à Rússia.

Já a Inglaterra vai buscar à Líbia 8,5% do petróleo que importa.

Muitas outras questões se poderiam pôr. Seriam particularmente interessante analisar os números do investimento estrangeiro na Líbia assim como os investimentos líbios no estrangeiro e suspeito que descobriríamos mais algumas dicas para explicar os desentendimentos entre as potências ocidentais para além de uma intensa e próxima relação entre o coronel Kadafi e os "cruzados imperialistas". Esta é uma das questões políticas mais problemáticas e ao mesmo tempo das mais patéticas desta intervenção: o coronel apodera-se de um verniz anti-imperialista e os nossos governantes fingem que não o conheciam de lado nenhum.

P.S. – Não esqueçamos que há um ponto em que todos os governos ocidentais estão de acordo, que é a absoluta e urgente necessidade de derrotar a revolução árabe. Esta intervenção é um grande contributo para esse objectivo. Fica para outro post.


A crise não toca a todos



Três fortunas à portuguesa

São 6380 milhões de euros, o equivalente a quase 3,6% do produto interno bruto nacional.
Esta é a soma das fortunas dos três homens mais ricos de Portugal, que cresceram 1,4 mil milhões em 2010, apesar da crise.
A Américo Amorim e a Belmiro de Azevedo juntou-se Alexandre Soares dos Santos na lista dos multimilionários da Forbes.


Este texto, reprodução de um artigo do Diário de Notícias de 11 de Março do corrente ano, tem por base um estudo de uma revista internacional que, anualmente, avalia as maiores fortunas a nível mundial.

Por esse estudo ficámos a saber que aquelas fortunas são as seguintes:

- A Américo Amorim cabem 3660 milhões de euros;

- A Alexandre Soares dos Santos cabem 1650 milhões de euros;

- A Belmiro de Azevedo cabem 1070 milhões de euros.

Estamos a falar de fortunas com dez algarismos, facto que torna muito difícil a sua quantificação por parte da generalidade dos portugueses na medida em que a sua escala de valores, tendo em atenção os salários médios, está balizada entre o salário mínimo nacional e os mil euros.

Importa, pois, traduzir por miúdos aquelas fortunas com vista à compreensão da sua dimensão.

Para o efeito, confrontámos os rendimentos, em 2009, dos 4 660 098 agregados familiares que  declararam, em sede de IRS, os seus proveitos às finanças.

Pois bem, tendo por base essa informação oficial concluímos o seguinte:

- A fortuna acumulada de Américo Amorim corresponde ao rendimento anual do total da população das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

Do que é que estamos a falar?

Estamos a falar que um homem só tem uma fortuna acumulada praticamente igual ao rendimento dos 101 399 agregados familiares dos Açores e aos 109 696 agregados familiares da Madeira, cujos rendimentos, em 2009, foram, respectivamente, de 1 796 729 550 euros e 1 950 810 960 euros.

Estamos a falar de uma fortuna acumulada equivalente ao rendimento declarado em sede de IRS de duas Regiões onde, em 31/12/2009, residiam 492 773 habitantes.

Estamos a falar do homem mais rico em Portugal, o mesmo que, há vários anos, foi acusado de falsificação de documentos, fraude e desvio de dinheiros do Fundo Social Europeu.

Estamos a falar de um homem a quem a União Europeia exigiu uma indemnização de 77 mil contos e juros a contar de 1987, com base na utilização fraudulenta de meio milhão de contos (cerca de dois milhões e meio de euros a valores correntes) para a formação profissional entre 1985 e 1988.

Tais crimes foram declarados prescritos pelo Tribunal da Relação do Porto, passados que foram onze anos sobre o início do processo e nove anos desde a primeira acusação do Ministério Público, facto que levou um articulista do jornalPúblico a comentar, em 30/9/2000, que «...o processo acaba por ser o espelho fiel do emaranhado de trâmites e decisões em que se enredam os nossos tribunais, que tem criado a sensação que os ricos e poderosos passam ao lado do escrutínio da Justiça».

Práticas de fazer inveja a Al Capone

Se à fortuna de Américo Amorim somarmos as fortunas de Alexandre Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo, globalmente avaliadas em 6380 milhões de euros, então a conclusão é a seguinte:

- Aquelas fortunas superam os rendimentos anuais de 1 339 822 agregados familiares com rendimentos anuais inferiores a 7500 euros.

Tendo em atenção que a dimensão média de cada agregado familiar corresponde a 2,28 pessoas, então a conclusão, é a seguinte:

A fortuna acumulada daqueles três multimilionários supera o rendimento anual de cerca de três milhões de portugueses.

Quando se fala em diferenças sociais esta é, seguramente, uma das mais expressivas.

Com efeito, tendo por base os dados que nos foram fornecidos pelo Ministério das Finanças aquele cálculo é sustentado no seguinte:

- No continente, em 2009, havia 1 277 322 agregados familiares com rendimentos anuais inferiores a 7500 euros, cabendo aos mesmos um rendimento global de 5935 milhões de euros;

- Nos Açores, em 2009, havia 31 350 agregados familiares com rendimentos inferiores a 7500 euros, cabendo aos mesmos um rendimento global de cerca de 136 milhões de euros;

- Na Madeira, em 2009, havia 31 150 agregados familiares com rendimentos inferiores a 7500 euros, cabendo aos mesmos um rendimento global de cerca de 138 milhões de euros.

Este retrato estatístico, à revelia do normativo Constitucional, espelha bem as assimetrias sociais existentes num país cujas instituições foram tomadas de assalto pelos grandes grupos económicos que, à extorsão da mais-valia no decurso do processo económico, acrescentam as malfeitorias exemplificadas nos casos BPN, BPP, BCP, nos processos «Furacão», «Portucale», «Casino de Lisboa», «Submarinos»,«Edifícios dos CTT», «Face Oculta», «Freeport», nas práticas ligadas às facturas falsas envolvendo importantes empresas da construção civil e obras públicas, entre muitos outros casos.

Nesses outros incluímos o seguinte:

«O Tribunal Central Administrativo Sul considerou que um conjunto de empréstimos realizados entre empresas do grupo tiveram um único fito – transformar juros tributáveis em 65 milhões de euros de dividendos isentos de imposto, contribuindo para 113,3 milhões de prejuízos fiscais».

O que é isto?

Isto decorre de um processo envolvendo o Grupo Jerónimo Martins, o qual, pelo cruzamento de várias operações entre empresas do mesmo grupo, pretendia fugir ao fisco por via da«redução significativa da base colectável a tributar».

Estamos a falar do abuso fiscal de um grupo económico cujo accionista de referência é o segundo homem mais rico de Portugal, o senhor Alexandre Soares dos Santos, empresário conhecido, não só pelo exuberante palavreado em nome da ética e das boas práticas empresariais, como pela enternecedora acção filantrópica, aliás no seguimento de generosos banqueiros que meteram a mão na massa.

Juntemos a esta prática a especulação bolsista, a economia de casino, o gamanço, a formação de preços e a extorsão da mais-valia e encontraremos neste sexteto, a fazer inveja a Al Capone, a explicação da concentração capitalista entre nós, a qual, não obstante a sua dimensão, não é, em termos fiscais, minimamente beliscada numa altura em que são impostas medidas draconianas aos trabalhadores, aos reformados e aos beneficiários das funções sociais do Estado.

Fontes:
 - Ministério das Finanças, em resposta ao Requerimento 149/XI/2ª do GP do PCP;
 - Diário de Notícias, de 11/2/2011;
 - Público, de 16/2/2011.




23 de março de 2011

Mudam-se os rostos, permanecem as vontades

Eleições o mais rápido possível, nem é preciso fazer campanha, afinal já sabemos o que nos apresentam as forças políticas, especialmente o partido que pode chegar ao poder.

Eleições sim, mas para mudar o quê? O rosto do líder do governo?

A maioria dos destemperados eleitores portugueses entregam-se ao sublime prazer do masoquismo. Para além disso, pensam que é suficiente uma alternância de poder, porque lhes dizem que é muito bom para a democracia, então se for bipolarizada através de uma política comum, ainda melhor.

Alto, já chega!  Não!  O Sócrates não!!  Por favor!  Não aguentamos mais!
Agora queremos experimentar o Passos!  A dor e a humilhação devem ser maiores… e quanto maiores, melhor! Sim! Isso mesmo!!  E quem sabe, o Portas, o homem também sabe do assunto, tem um curso tirado nos EUA!
Eles sabem o que fazem, sim senhor, são especialistas, os melhores da nossa praça!
Bem, e se fossem os três ao mesmo tempo?  Ainda melhor!!  Era a loucura total!
Então se juntarmos um presidente mudo! Ui Ui!!  Deixem-nos sonhar!

Desculpem, e se fosse para mudar de política? Não?




21 de março de 2011

Mudam-se os tempos mudam-se os Tavares

Os Homens da Luta é que sabem...


O Imperialismo sem máscara na agressão ao povo da Líbia



Uma vaga de indignação varre o mundo, levantada pela agressão imperialista ao povo da Líbia.

A Resolução do Conselho de Segurança que abriu a porta ao crime – mascarado de «intervenção humanitária» – foi preparada com antecedência. Concebida em Washington, coube à França e ao Reino Unido apresentar e defender o texto porque não convinha aos EUA, atolados nas guerras do Iraque do Afeganistão, surgirem como país patrocinador. Essa Resolução desrespeita a Carta a da ONU, mas, embora criminosa, os agressores não a consideraram suficiente.

A França iniciou os bombardeamentos aéreos e navios de guerra dos EUA e do Reino Unido dispararam quase simultaneamente salvas de mísseis de cruzeiro contra Tripoli e outras cidades. Alguns atingiram um hospital e áreas residenciais, matando dezenas de civis.

Os discursos de Obama, Sarkozy e Cameron que pretendem justificar a agressão – montada e dirigida pela África Comand dos EUA -serão recordados como peças oratórias de refinada hipocrisia.

Dois objectivos motivaram o ataque à Líbia: o saque dos recursos naturais - petróleo e gás - e a necessidade de controlarem através do medo, o rumo das rebeliões populares que na Tunísia e no Egipto derrubaram as ditaduras de Ben Ali e Mubarak, ambos aliados de Washington.

Enquanto invocam a defesa da liberdade e da democracia e motivos humanitários para bombardear a Líbia, os EUA apoiam as matanças praticadas pela ditadura feudal do Iémen e incentivaram a monarquia islamista da Arábia Saudita a invadir o Bahrein, sede da V Esquadra da US Navy – para reprimir a insurreição do seu povo.

A contradição ilumina bem o farisaísmo de Washington.

Os governos responsáveis pelo ataque à Líbia garantem que não haverá desembarque de tropas terrestres. Mas é imprevisível a desenvolvimento da agressão. O motivo alegado para o ataque ao Afeganistão foi a suposta permanecia ali de um homem, Bin Laden, apontado então como inimigo numero um dos EUA. Agora é outro individuo, Muamar Khadafi , o pretexto invocado para a agressão imperial.

Khadafi nunca mereceu o nosso respeito. Mas manifestamos irrestrita solidariedade com o povo da Líbia, ameaçado de recolonização, nestes dias em que nas suas cidades e campos explodem bombas e mísseis.

É oportuno sublinhar e lamentar que o Parlamento Europeu tenha aprovado uma resolução que o tornou cúmplice da agressão, iniciativa que contou com os votos do PS, PSD e CDS, e também com o voto do partido da Esquerda Europeia, incluindo o do Bloco de Esquerda. O PCP, consequentemente, votou contra.

O Conselho Português para a Paz e a Cooperação convocou para o dia 23 uma concentração de protesto contra a agressão, junto da Embaixada Americana.

Fazemos nosso o seu apelo à participação do povo de Lisboa. O imperialismo estadounidense é o grande inimigo da humanidade.

Publicado em Odiario.info


18 de março de 2011

19 de Março



Não vejo a hora de rumar a Lisboa para mais uma inesquecível jornada de luta.
Pela primeira vez, desde há muito tempo, não sentia assim um frio, daqueles que se apossa de nós, nos momentos que antecedem os grandes acontecimentos.
O nervosismo que nos invade quando somos chamados ao palco a tomar a parte decisiva da actuação, quando nela temos a felicidade e o privilégio de participar ao lado de ilustres companheiros ou quando dela depende o nosso futuro.
Pois acreditem que amanhã, dia 19 de Março de 2011, todos os astros até agora catalogados na parte do firmamento que já descobrimos, irão alinhar-se de forma a reproduzir estes três improváveis ingredientes.
Amanhã de uma forma tão determinada e consequente como na semana passada, decidir-se-á o nosso futuro!
Amanhã seremos muitos mais que de costume, agora já na companhia dos que no passado dia 12 soltaram a rolha que lhes tapava a garganta!
Amanhã teremos a companhia do Fernando Tordo, do Jorge Palma, do Rui Veloso, do Luís Represas e dos homens da luta…
Não, ainda não cedi à tentação das pastilhas.
Não, amanhã nada será assim.
A não ser talvez, num pequeno grande pormenor.
Amanhã estarão lá os homens da luta.
Sim estarão lá os verdadeiros Homens da Luta. Aos centos, que assim é que é bonito!



Voltemos à Libia e ao Bloco II



As Nações Unidas aprovaram uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, uma medida que se concretiza na prática com a intervenção militar da NATO, com a manutenção da rapina dos recursos naturais do país e o rapto da revolução.


O voto do Rui Tavares no parlamento europeu contribuiu para esta desgraça. É ele o homem ao comando do caça da NATO, e as suas justificações tontas não conseguem atenuar a gravidade da sua decisao e as dramaticas consequencias que se seguirão para o povo libio a que o seu nome, e por arrasto o do Bloco, vai ficar associado. Não estará na hora de o menino Rui voltar para Lisboa e dedicar-se às lides académicas?


Já o voto da Marisa Matias e do Miguel Portas na generalidade da moção, apesar de todas as dúvidas que possa suscitar a negociação parlamentar, tal como referi em post anterior é minimizado por terem votado contra a zona de exclusão aérea.


PS: caso haja dúvidas sobre o papel contra-revolucionário de Kadafi notar como no Bahrein as forças de intervenção sauditas libertaram o exército local para poder esmagar o levantamento popular. Hoje no Yemen o governo pela primeira vez deu ordens para atirar indescriminadamente sobre os manifestantes em Sanaa.


Por ter visto a reportagem e ficado perplexo

Em baixo, publico um texto de opinião do ODiario.info e dois vídeos retirados do you tube, para ficarmos com uma ideia de como estão a ser feitos os protestos anti-Obama, com acções de campanha e manifestações promovidas pelo movimento de extrema-direita, o Tea Party, financiado por alguns bilionários como David Koch. A reportagem mostra ainda uma estratégia bem definida por parte deste movimento. O modo como exercem influência através de todos os meios ao seu alcance e de uma forma descarada, manipulando um povo que às vezes parece ter orgulho na sua ignorância. Hitler conquistou o poder através da exploração, da intolerância e estupidez do seu eleitorado, o Tea Party e os Republicanos estão a fazer o mesmo.


         Notícias da pior América           por Correia da Fonseca

“… não é frequente, longe disso, que a TV nos permita olhar para dentro dos Estados Unidos sem que o façamos através das lentes cor-de-rosa que o imperialismo mediático impõe aos seus súbditos e de que a televisão portuguesa é devotada utilizadora.”
Mas às vezes, raras, acontece…

Integrada na rubrica «Observatório do Mundo», a TVI24 transmitiu na terça-feira da passada semana, com repetição na tarde de sábado, uma importante reportagem acerca da actualidade política nos Estados Unidos da América.

É sabido por quem de todo em todo não se recuse a sabê-lo que a democracia norte-americana é muito mais um cartaz e um estribilho publicitários que uma realidade, e isto não apenas na acção externa por esse mundo fora, onde desde o fim da Segunda Guerra Mundial já praticou ou patrocinou uma extensa lista de agressões, mas também na ordem interna.

Convém, porém, que instalados no conhecimento sumário da verdadeira natureza da realidade estadunidense não descuremos o acompanhamento das tendências e eventuais mutações que por lá se preparem porque, já se sabe, o que se passe do lado de lá do Atlântico Norte ainda é muito capaz de se reflectir nos mais diversos lugares do mundo. E, justamente, a reportagem transmitida pela TVI24 foi uma contribuição relevante para sabermos o que por lá vai acontecendo, para eventualmente ajustarmos o nosso olhar e nos apercebermos de que ventos ali se estão a levantar.

Há, felizmente, muita gente que não encara os Estados Unidos com a ingenuidade de quem acredita na estória da Branca de Neve qualquer que seja a cor da pele do suposto príncipe encantado.


Mas não basta, naturalmente, entender que Barack Obama não será o que de boa-fé ou não muitos continuam a querer sonhar que seja e que de qualquer modo ele manda muito menos que a Dona Hillary; é preciso não esquecermos o que está por detrás de um e de outro, lembrarmo-nos dos que mandam de facto, dos que decidem e dão as ordens que não ouvimos nem lemos mas vemos cumpridas no Médio Oriente e um pouco mais a Leste, na Europa e nas Honduras, em quase tudo quanto é sítio, sempre consubstanciadas em guerra, sangue e fome.


E é desses poderes ocultos mas terrivelmente sensíveis, mais das legiões de gente ignorante e manipulada que estão a ser mobilizadas de uma ponta a outra dos States, que nos falou esta reportagem quase preciosa porque não é frequente, longe disso, que a TV nos permita olhar para dentro dos Estados Unidos sem que o façamos através das lentes cor-de-rosa que o imperialismo mediático impõe aos seus súbditos e de que a televisão portuguesa é devotada utilizadora.

O que a reportagem transmitida no âmbito do «Observatório do Mundo» nos mostrou foram imagens e vozes da mobilização a que a direita norte-americana, incluindo a mais extrema, recorreu para retomar claramente o poder político e daí garantir a sobreprotecção aos seus interesses.

Trata-se, formalmente, do retorno à Casa Branca de quem, assumindo-se como um anti-Obama, afaste as ameaças que alguns projectos do actual presidente pareceram representar para o grande empresariado. Para isso se vem intensificando quase até ao paroxismo a actividade do Tea Party, secção radical do Partido Republicano, com vínculos praticamente assumidos a organizações de facto terroristas de extrema-direita e, saliente-se, ao serviço da qual está o Fox TV, a mais vista cadeia norte-americana de televisão.

Nas suas manifestações, de que vimos abundantes imagens, não apenas Obama é tratado correntemente de comunista como são rotina os cartazes de odienta rejeição do que por lá é designado por «comunismo» ou, em sinonímia radicada num sólido analfabetismo político, por «socialismo». Pelo que ali se viu e ouviu, está levedando na «Livre América» uma mistura de estupidez, ignorância e agressividade perigosa para os Estados Unidos a título imediato e para o mundo inteiro em fase seguinte.

E especialmente exacerbada porque de facto desencadeada pelo medo: a ditadura financeira e empresarial que tem dominado aquele país sabe que o poder económico norte-americano está a perder a liderança; que o seu domínio militar enfrenta desaires e se atasca em atoleiros paralisantes, que já não é o que era; que na sua frente emerge o fantasma da derrota final.

É um bicho ferido que se apercebe da gravidade das suas feridas e por isso se torna mais perigoso. Daquela gente manipulada pela TV e pelo verbo tosco mas eficaz de pregadores supostamente religiosos escorre uma mistura de medo e de ódio. São primários, e por isso mais ferozes. Podem ser a massa de onde pode emergir, para acção interna mas também para eventuais exportações, o nazifascismo do século XXI.

A reportagem mostrou, nós vimos, não vamos esquecer.                                                


      


15 de março de 2011

Façamos um breve interlúdio musical...


... sem qualquer qualquer tom jocoso. O guettojew regressa amanhã para tratar dos assuntos pendentes.

O artista até é um bom artista, não havia necessidade...

Faz-me um (vários) favor(es)!


Questão prévia:
Por respeito à inteligência e sensibilidade daqueles que, nos últimos meses, se habituaram a ter-nos por companhia, vou manter o mesmo tom de voz. Eles agradecem o registo que se suporta no conteúdo em detrimento da forma, coisas desta malta que ainda e sempre resiste ao formato Ídolos e Operação Triunfo (ao que consta, muitos dos que foram aos Aliados e à Avenida, estavam à espera das audições…) e contentam-se com a sobriedade com que sempre se procuraram esgrimir argumentos, sem confundir políticas com ideologias, nem pessoas com partidos.
Camaradas, julguei sermos todos. Nunca pensei ler-te esta atribuição em tom jocoso e auto-exclusivo. Enfim…
Demais questões:
Estás a falar com quem? Quem são os camaradas aqui do FogeMariaFoge, candidatos a atletas olímpicos? Onde e quem lamentou a ingratidão do povo líbio com Kadhafi? São os mesmos que se fecharam na Alfândega? Repito, quem? Para não terem de se misturar!? Mas por quem nos tomas? Tu, que abraçaste a rua pela primeira vez, comigo!
Se alguém não se quis misturar, foram os enrascados que escolherem cirurgicamente o dia 12, para terem a rua só para si, já que dia 19 a rua já estava reservada para os outros, os dos partidos e dos sindicatos, aqueles com quem não calhava bem misturarem-se. E com outra vantagem para o dia 12! Esses mesmos, os dos partidos e sindicatos, tinham iniciativas próprias e autónomas já há muito agendadas, que os prendiam (fechadinhos, como pelos vistos tanto apreciaste) no Campo Pequeno ou na Alfândega.
Acredito que a flexibilidade de que falas, nada tem a ver com falta de coerência dos camaradas do FogeMariaFoge, mas sim das posições oficiais do PCP, sendo todavia prudente começar por se cuidar da escrita, para não se ferirem sensibilidades, nem tão pouco espantar fantasmas há muito adormecidos.
Só que em termos de coerência, meu caro… A história do PCP fala por si, e neste particular, até a Vera Lagoa concordaria comigo.
E é aqui que radica o teu problema, atulhado que andas nas patetices que o teu bloco tem coleccionado e apenas com uma curta e triste estória para apresentar, atiras com a mais desastrada das acusações. Aquela que, repito, até a Vera Lagoa, desprezaria.
E nesta alucinante diatribe digna da esquerdalha mais reles, brindas-nos com a brilhante projecção imaginativa de terceiros (seja lá o que isso for, em termos de saúde mental…). O tio Louçã, a pilotar um caça sobre Tripoli. Devo confessar-te que achei fixe! Mereceria um prémio, não fosse obtida à custa de doping. As tais pastilhas de que tanto falas e lá saberás porquê…
Quanto à questão central, à qual já serena e civilizadamente regressaste, devo referir-te que a mesma terá por epílogo algo que retiro em citação, de comentário incluso, a este propósito, no esquerda.net:
Branco mais branco não há.
Escusam de se maçar com mais explicações que todos nós já entendemos. Melhor está o Rui Tavares, que nem se dá a tais canseiras.
Daqui a 2 a 3 meses, alguém, em algum lugar, ouvirá o caro Miguel Portas ou a cara Marisa Matias, confessar:
"Visto assim à distância, devo concordar que a decisão então tomada, não foi a mais feliz!"



Voltemos à Libia e ao Bloco


Agora novamente com letras pequenas. Acho que vale a pena ler a justificação do Miguel Portas no site do Bloco antes de fazer comentários sobre a inflexão imperialista do Bloco de Esquerda. Fica claro que a votação se tratou de uma mera posição tática que permitiu influenciar a redação do documento final impondo restrições importantes aos anseios mais belicistas, o que está longe de ser o apoio à invasão da Libia que foi inicialmente denunciado pelo Renato Teixeira do 5 dias. Tanto que o parágrafo 10 do documento que considera a “possibilidade” de uma zona de exclusão aérea foi alvo de uma votação na especialidade e o Miguel Portas e a Marisa Matias votaram contra. Já no caso do Rui Tavares, um caso de tontice política patológica, votou a favor. Evoluiu do anarco-parlamentarismo para o anarco-intervencionismo.

Agora convém também dizer que o único amigo do imperialismo na Libia é o coronel Kadafi, e mais uma vez repetir que o silêncio inicial do ocidente perante a revolta significou apenas a esperança de esmagamento da revolta por Kadafi, o que deixaria o país nas mãos de alguém em quem se pode confiar.

Na situação de impasse que se viveu até há uma semana atrás e que correspondeu à grande mobilização de meios militares para uma possível intervenção, não tenho dúvidas que face a uma Libia divida em dois, onde dum lado manda um Kadafi que se tornou politicamente indefensável e do outro uma coligação de rebeldes com aspirações democráticas e pouco dados a negociatas petrolíferas, o ocidente lançar-se-ia numa intervenção militar (e quem sabe uma ocupação) para garantir o acesso ao petróleo.

Mas na última semana Kadafi recuperou a iniciativa e fez importantes avanços militares e o ocidente começou novamente a arrastar os pés. A ideia de uma vitória de Kadafi volta a encher de esperança os nossos governantes que nunca fizeram a tempo o que deviam ter feito: o apoio imediato aos refugiados nas fronteiras da Tunísia e do Egipto, o estabelecimento imediato de relações diplomáticas com os revoltosos, a pressão junto dos países de onde foram enviado mercenários para a Libia para impedir a exportação dos cães de guerra.

A lição que Kadafi está a dar aos restantes tiranos do mundo árabe já está a ter consequências: hoje a Arábia Saudita enviou uma força militar de 1000 homens para o Bahrein para ajudar a esmagar a revolução nesse pais. Mas as lições não se esgotarão por aí. Se a Grande Jamairia Socialista Árabe do Povo Líbio chegar a Bengazhi a revolucao será esmagada com um banho de sangue comparável ao da Comuna de Paris. E a partir desse momento todos os ditadores, do Yémen ao Bahrein, da Argélia à Siria compreenderão que têm rédea solta para aniquilar o movimento popular.

Não há que pagar esta dívida!

Pela criação de uma Comissão de auditoria da divida portuguesa           por Guilherme Alves Coelho


Especialistas de vários países consideram que dívidas externas de Estados altamente devedores, originadas por empréstimos contraídos no âmbito de uma total desregulação dos mercados, podem ser investigadas e, se forem consideradas ilegítimas, ilegais ou odiosas, devem ser renegociadas ou mesmo anuladas. A divida externa portuguesa – uma das maiores da Europa, resultante de empréstimos que nenhuns benefícios trouxeram ao povo, parece estar nessas condições. Será portanto legitimo indagar como, quando e para quê foram esses empréstimos concedidos e quem deles beneficiou e, se for caso disso, fazê-los pagar a dívida. Alguns países já seguiram este caminho com resultados positivos.


Após mais de três décadas de aplicação da política neoliberal em muitos países, os resultados não podiam ser piores para as suas populações: a destruição da produção nacional, o saqueio dos Estados, uma catastrófica redução dos direitos e níveis de vida dos cidadãos e um obsceno crescimento do número de multimilionários, provocando a maior desigualdade social de sempre. Como consequência, uma crise global sem precedentes parece ter-se instalado em definitivo.

Portugal não foi excepção. A imposição do colete-de-forças da UE e do Euro entregou definitivamente a soberania nacional nas mãos do capital especulativo financeiro estrangeiro e nacional. O país ficou assim privado dos possíveis mecanismos de equilíbrio financeiro.

Sem defesas e com a produção paralisada, Portugal tornou-se um dos mais endividados da zona euro, com o endividamento externo crescendo a níveis incomportáveis. A dívida externa é hoje o maior problema que o pais enfrenta. 

A solução para sair desta crise, imposta pelos que a provocaram, é apenas a continuação da ruinosa politica do neoliberalismo, fazendo pagar a dívida aqueles que já eram as suas principais vítimas: os trabalhadores e o povo em geral. Este caminho só pode conduzir ao desastre, ao retrocesso civilizacional e ao comprometimento das gerações futuras. O sacrifício dos portugueses ao longo de décadas foi inútil.

Um pouco por todo o mundo onde esta politica tem sido imposta, os trabalhadores começam a rebelar-se contra estes abusos. Os portugueses têm resistido maciçamente, através de manifestações de protesto, atingindo níveis de participação nunca antes alcançados. Mas, num quadro de legalidade cujas regras são ditadas pelo poder, os resultados estão ainda longe de fazer recuar a classe dominante, que prossegue a sua caminhada devastadora.

Perante um cenário como este, que pode ser irreversível, muitos crêem que não há mais lugar para contemporizações. Que é imperioso romper com as actuais politicas neoliberais e encontrar outros caminhos, que façam pagar a crise aos que com ela abusivamente lucraram.

O que fazer? 

Embora o pensamento único tente fazer crer na inevitabilidade da solução neoliberal, segundo alguns autores outras soluções existem em relação aos pagamentos das dívidas externas.  Pelo menos três hipóteses alternativas se colocam:

- a primeira, a de austeridade para a maioria; esta hipótese favorece o capital financeiro e corresponde à continuação das medidas actuais.

- a segunda, a reforma da União Europeia, no sentido de a tornar favorável aos povos; obrigaria a uma autêntica revolução – coisa que está nos antípodas do pensamento e da acção dos actuais responsáveis políticos, e nem os trabalhadores estão em condições de encetar. 

- a terceira alternativa, o deliberado incumprimento da dívida; permitiria reexaminar a legitimidade da dívida e, se necessário, não a pagar.

Só esta última solução poderia beneficiar a maioria trabalhadora.

Alegam aqueles especialistas que será perfeitamente legítimo não pagar aquilo que foi ilegal ou ilegitimamente emprestado, quer devido aos juros desproporcionados, quer pela inutilidade na aplicação dos empréstimos ou até pela sua apropriação fraudulenta. Neste caso será mesmo de imputar o pagamento das dívidas aos que deles beneficiaram.

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