12 de outubro de 2010

Prémio Nobel da Paz


Além de observar a justeza na escolha da atribuição do Prémio Nobel da Paz, deste ano a Liu Xiaobo, pela sua luta não violenta pelos direitos fundamentais na China,  questiono-me, se este prémio não será também uma tentativa de catalisar a transformação do modelo político chinês. Transformação essa, já iniciada como uma consequência da alteração do modelo económico, há cerca de três décadas, naquela que já é a segunda maior economia do mundo…



5 comentários:

  1. É um prémio político.

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  2. E obviamente justo, mas não por ser político, é pela luta a favor dos direitos fundamentais!

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  3. Quente vai a discussão, na blogosfera portuguesa, relativa ao comunicado elaborado pelo PCP, a propósito deste prémio Nobel, bem assim como do prémio atribuído o ano passado.
    De um lado, os que se aproveitam da omissão à condição de preso político que o laureado apresenta, para lançarem mais um cerradíssimo ataque ao PCP em particular, e ao comunismo em geral, num indisfarçado anti-comunismo primário, ou então num reaccionarismo eivado de arrogância intelectual, manifestação causal de uma ignorância petulante ou de uma má fé com variadíssimas origens políticas.
    Por outro lado, os que numa defesa cega das teses, doutrinas e corrente oficial do centralismo democrático do PCP, fogosamente se perfilam como defensores das afirmações do dito comunicado, esquecendo de forma grosseira a indesculpável omissão de que o mesmo padece, denunciando o carácter político das duas últimas atribuições do prémio Nobel da paz, as quais claramente se distanciam do espírito contido no testamento de Alfred Nobel, no que ao dito prémio diz respeito.
    Restar-me-á assinalar, de uma forma pragmática e conhecedora da realidade interna do PCP, que tal partido continua a manifestar uma extraordinária dificuldade em se libertar de laços político-afectivos que ao longo da sua história foi estreitando com diversos protagonistas (leia-se nações e personagens) que mais tarde ou mais cedo, inevitavelmente acabaram por trair os ideais comunistas.
    Que partidos e/ou políticos já não o fizeram?
    Não aprovo que se esqueça o carácter de prisioneiro político que Liu Xiaobo detém.
    Assim como não esqueço o quão imbecil e patética se tornou actualmente, a atribuição do prémio Nobel da paz.

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  4. Nos últimos dias, correu uma notícia que provoca calafrios: no Afeganistão, existem militares americanos que matam civis inocentes por divertimento, conservando depois partes dos corpos das vítimas como recordação de caça. A administração americana apressou-se a bloquear imediatamente a difusão de pormenores posteriores e principalmente de fotos: chocada, a opinião pública americana e internacional podia vir a fazer pressão para acabar com a guerra no Afeganistão; para poder continuar com ela, com essa guerra, e torná-la ainda mais dura, o “Prémio Nobel da Paz” preferiu assim infligir um golpe à liberdade da imprensa.
    Mas podemos fazer aqui uma consideração de carácter geral. No século XX, foram os Estados Unidos o país que teve o maior número de grandes homens de estado coroados com o “Prémio Nobel da Paz”: Teodoro Roosevelt (para quem o único índio “bom” era o que estava morto), Kissinger (o protagonista do golpe de estado no Chile e da guerra no Vietname), Carter (o promotor do boicote dos Jogos Olímpicos de Moscovo em 1980 e da proibição de exportação de trigo para a URSS, que tinha intervindo no Afeganistão contra os combatentes da liberdade muçulmanos), Obama (que, agora, recorreu a um monstruoso aparelho de guerra contra esses mesmos combatentes da liberdade, que entretanto passaram a terroristas). Vejamos, na vertente oposta, como é que se posicionam os senhores de Oslo no que se refere à China. Este país, que representa um quarto da humanidade, não se envolveu em nenhuma guerra nos últimos trinta anos e fomentou um desenvolvimento económico que, libertando da miséria e da fome centenas de milhões de homens e mulheres, lhes permitiu pelo menos aceder aos direitos económicos e sociais.
    Pois bem, os senhores de Oslo não se dignaram ter em consideração esse país senão para atribuir três prémios a três “dissidentes”: em 1989 o “Prémio Nobel da Paz” é atribuído ao 14º Dalai Lama, que tinha abandonado a China já há trinta anos; em 2000 o Nobel da literatura é atribuído a Gao Xingjan, um escritor que a partir daí passou a ser cidadão francês; em 2010, o “Prémio Nobel da Paz” coroa um outro dissidente que, depois de ter vivido nos Estados Unidos e de ter ensinado na Universidade de Columbia, regressa à China “a toda a velocidade” (Marco Del Corona, no Corriere della Sera de 9 de Outubro) para participar na revolta (nada pacífica) na Praça Tienanmen. Ainda hoje, é assim que ele fala do seu povo: “Nós os chineses, tão brutais”.
    Assim, aos olhos dos senhores de Oslo, a causa da paz é representada por um país (EUA) que se considera investido da missão divina de guiar o mundo, que instalou e continua a instalar bases militares ameaçadoras em todos os cantos do planeta; quanto à China (que não possui nenhuma base militar no estrangeiro), uma civilização milenar que, depois do século de humilhações e de miséria impostas pelo imperialismo, está em vias de voltar ao seu antigo esplendor, quem representa a causa da paz (e da cultura) são apenas três “dissidentes” que aliás pouco têm a ver actualmente com o povo chinês e que vêem no ocidente o único farol que ilumina o mundo. Sem dúvida que vemos emergir aqui na política dos senhores de Oslo a antiga arrogância colonialista e imperialista.

    * Doménico Losurdo, filósofo e Professor da Universidade de Urbino, é amigo e colaborador de odiario.info
    Publicado a 9 de Outubro 2010 no blog do autor
    http://domenicolosurdo.blogspot.com/2010/10/il-nobel-della-guerra-ai-signori-del.html

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  5. Pois é, isso de ser "dissidente" é muito curioso...
    Geralmente, quem se opõe politicamente é denominado por "opositor", mas para ser dissidente, basta ser opositor político de um país que os Estados Unidos não conseguem controlar!

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