23 de novembro de 2010

Porque a greve começa de véspera

Porque a greve começa de véspera.
Hoje é dia de ir às compras, comprar o leite, o pão e tudo o resto. Amanhã não bastará fazer greve, teremos também de mostrar àqueles que não aderiram à greve, que mais valia terem ficado em casa.
Que sentido faz a greve, se ao mesmo tempo justificamos o trabalho dos outros?
Greve é também dizer não aos transportes, não às compras, não aos jornais, ao entretenimento, à televisão e até às telecomunicações!
É dizer não ao consumo!

Não ao logro dos serviços mínimos.

Não ao estigmatização dos piquetes de greve.

Mais que tudo a greve é um grito de insatisfação e revolta.
É como que um: "Assim não dá mais!"
É quando se atira o engenho por terra, se limpa o suor da testa e se olha os camaradas esperando que nos compreendam e nos sigam.

Qual negociação ou chantagem com a entidade patronal.
Esta greve geral, mais que qualquer outra, terá que corresponder ao grito de revolta dos trabalhadores portugueses, que pela enésima vez são chamados a pagarem uma crise da qual serão os menos responsáveis.
E não nos venham dizer que a culpa é de todos nós. Que andamos a viver acima das nossas possibilidades.
Pois fiquem sabendo que com essa não nos enganam mais. Não é, Maria?
As famílias portuguesas estão demasiado endividadas? Pois estão.
Mas dá jeito que assim estejam.
Enquanto tiverem a prestação da casa para pagarem. Mais a prestação do carro e do computador.
Mais o LCD e o colégio dos filhos. Enquanto a isso os obrigar a sua dignidade, os portugueses estão aprisonados.
Estão impedidos de fazerem uma verdadeira greve.
Sim uma daquelas greves que só os miseráveis souberam fazer. Uma greve por tempo indeterminado. Uma greve que findasse com o fim da injustiça.
Esses sim, não tinham nada a perder. A fome, o frio, a ignorância, a miséria e o medo que premiavam o seu trabalho, deu-lhes a força e a coragem para mudarem.
A greve como expressão fiel da liberdade, o abandono do posto de trabalho, como verdadeiro gesto emancipatório. A greve era a conquista da liberdade.
E hoje o que é a greve?
Estamos mais agrilhoados que outrora. Não passamos de uns miseráveis burgueses reféns do nosso parco salário. Com medo que o FMI nos entre pelas portas adentro, sem nos apercebermos que o FMI é uma finta...







1 comentário:

  1. Já não ouvia isto há uns anitos.
    Boa escolha.
    Boa perspectiva sobre o alheamento (ou incapacidade) dos portugueses.
    Estou em greve.
    Eles não nos conseguirão calar!

    ResponderEliminar