5 de dezembro de 2010

Coragem





Se há coisa que admiro é a coragem. Gosto de homens que fazem peito e se atiram com bravura ao inimigo, quantas vezes imensamente superior quer em força quer em número. Como os nosso governantes por essas Europas, que do nosso determinado Sócrates à austera Merkel têm feito tantos sacrifícios e tomado medidas que lhes causam tanta dor e aflição só para pôr na ordem esta turba de funcionário públicos, sindicalistas, esquerdistas e outras espécies exóticas e fazê-los pagar a crise porque é preciso que alguém a pague e é a assim a vida. E é vê-los, sempre que conseguem baixar um salário ou despedir um malandro dum funcionário público, a elogiar-se uns aos outros, ele é abraços, pancadinhas nas costas e muitas vezes uma mal escondida pontinha de inveja pela coragem alheia. Aqui a Mariazinha confessa que sente uma certa emoção com tão galantes lutadores e até uns calores esquisitos que a deixam assim meio desassossegada. Enfim, coisas minhas.

Temos é que dar graças a Deus para que estes senhores não percam a coragem que tanta falta nos faz. Viu-se agora com esta coisa selvagem e miserável da greve dos controladores de tráfego aéreo em Espanha. Uma gente que trabalha uns turnos de quatro horas, ganha pra cima de não sei quantos centos de mil euros ao ano e têm a lata de vir fazer greve! Primeiro onde é que já se viu um empregado ganhar tanto dinheiro? Deve ser um belo emprego sim senhor! Se fossem administradores da empresa vá lá que não vá, que são cargos de responsabilidade e mandar dá muitas dores de cabeça. Agora estar ali a ver uns aviõezinhos num ecrã durante quatro horas vale assim tanto dinheiro? Imaginem o que seria, depois de tanto sacrifício que os nossos governantes fizeram por essa Europa fora para pôr as contas em ordem, a calamidade de ceder perante um grupo tão pequeno, tão privilegiado, tão poderoso e ao mesmo tempo tão mal intencionado? Que mau exemplo para todos! Tanto governante desautorizado, tanta testosterona em vão derramada. E depois imagine os malandros a levarem a sua avante? Imaginem o que nos aconteceria a nós que estamos aqui tão perto e que se fica a saber tudo o que se passa no país do lado? No dia seguinte ia ser um ver se te avias de homens do lixo a pedir de volta o abono de família, empregados de mesa a pedir um salário mínimo de quinhentos euros e bancários a exigir que os banqueiros paguem impostos. E isso tá bem de ver, era um problema porque não há dinheiro para tanta regalia. (Até me podem dizer que sim que os banqueiros deviam pagar impostos e eu até aceito isso. Mas tem que haver regras. Como aqueles senhores deputados do PS que fizeram uma sugestão de os senhores banqueiros contribuírem voluntariamente para o bem da nação. Pediram de forma respeitosa e quando perceberam que os senhores banqueiros não estavam interessados mudaram de assunto que é assim que se fazem as discussões entre cavalheiros. Ou os senhores da Grécia e da Irlanda que face às dificuldades nunca se puseram a fazer queixinhas dos senhores banqueiros ou dos senhores que compram aqueles papéis das dívidas e deitaram mãos à obra e acabaram com muitos dos privilégios que existiam lá nos países deles).

Ainda dizem que de Espanha nem bom vento nem bom casamento, mas lá que o Zapatero os tem no lugar isso é verdade. A luta era tão desigual que até teve que meter tropa. E eu que me pelo por homens de farda…

3 comentários:

  1. Benvinda Mariazinha,

    Esperamos ver-te por cá amiúde.

    Abreijos

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  2. Foi uma greve selvagem sem pré-aviso que causou largos prejuízos económicos.
    Mereciam ser presos e não prestaram um bom serviço ao sindicalismo nem à classe trabalhadora.
    Já colocou a hipótese de haver muito cretino neo-liberal, trabalhador por conta de outrem, com um umbigo maior que o mundo a utilizar indevidamente as ferramentas dos trabalhadores, na defesa de interesses corporativos?

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  3. Caro anónimo
    O melhor serviço que os controladores poderiam ter prestado à classe trabalhadora era ter ganho esta luta. Isso provavelmente teria exigido a solidariedade de outros sindicatos e grupos de trabalhadores. Infelizmente não faltam por aí dirigentes cobardes. Agora vai ser mais fácil impor a todos a austeridade.
    Beijocas
    Mariazinha

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