24 de janeiro de 2011

Análise ao resultado eleitoral

Poucos são os aspectos positivos a extrair das eleições presidenciais de 2011.

Desde logo a reeleição de Cavaco Silva, que confirma a severa crise civillizacional que trespassa a Europa Ocidental, berço das mais profícuas e libertadoras conquistas que a humanidade experimentou. Tony Blair, Sarkozy, Berlusconi, Aznar, Durão Barroso, entre outros, fazem parte desta horrível galeria de marionetas que se envaidessem com o palco que lhes é facultado pela oligarquia que explora este planeta.

Cavaco Silva venceu as eleições. Os portugueses e sobretudo a democracia merecem o meu respeito por esta eleição, a besta não merece os meus parabéns.
Ao contrário de todos os seus anteriores sucessores, conseguiu a proeza de não consolidar a votação tida na primeira eleição.
Ficam os cidadãos honestos, atentos e humanistas traumatizados por terem que levar com este sujeito, por mais cinco anos. Fica o sujeito com o título de presidente menos apreciado da história de Portugal.


Havendo mais de 700 mil eleitores que nas anteriores presidenciais, votaram menos 1.041.494. Não se adivinhando uma forma de distribuir estas desistências pelos diversos candidatos ou candidaturas repetentes, restar-nos-á uma extrapolação em jeito de regra de 3 simples, apontando a mesma como expectável, que Cavaco Silva tivesse obtido menos 520.000 votos. Este candidato, que recorde-se era apenas o Presidente da República, conseguiu perder 516.600 votos. Ou seja, ao fim de um mandato presidencial, o homem não conseguiu aumentar a sua popularidade. Caso único e capaz de envergonhar qualquer político sério e com um pingo de autoestima. Não conto ver o figurão corar.


O político Manuel Alegre morreu. Salve-se o poeta.

Politicamente o resultado obtido por Alegre nestas eleições, ficará na história da ainda jovem democracia portuguesa, como a maior derrota eleitoral de que haverá memória. Derrota à qual não poderão escapar o PS e o BE.

Manuel Alegre obteve menos 293.000 votos que na eleição anterior. Utilizando a mesma regra de três simples e em função do milhão de eleitores que votou nas anteriores presidenciais e desta feita se absteve, Alegre deveria ter perdido apenas 225.000 votantes. Ou seja, Alegre não foi sequer capaz de fixar os seus anteriores eleitores. Mas a sua derrota é de uma dimensão avassaladoramente maior.
Senão vejamos:
A somar ao 1.125.086 votos que obteve em 2006, Manuel Alegre deveria estar a contar com os 778.789 votos de Mário Soares, candidato apoiado pelo PS, partido que nesta eleição, apoiou Manuel Alegre. Mais ainda deveria o poeta esperar adicionar a este pecúlio, os 288.262 votos então obtidos por Louçã. Uma vez mais e socorrendo-nos da única extrapolação lícita, este candidato partiu para as presentes eleições com uma base de apoio cifrada em 2.192.137 votos, que representariam em função do acréscimo de abstenção, uns actuais 1.708.803 votos, ficando-se por uns “míseros” 831.959 votos, perdendo “apenas” 876.844 votos (51%).


Francisco Lopes, outro grande derrotado.

O PCP continua entretido na sua assinalável, quanto árdua tarefa de sobreviver, fazendo-o com o altruismo, a honestidade e a educação que os portugueses e o modelo de organização social escolhido ou imposto, não merecem.
E neste círculo vicioso em que se enredou, não morre, mas tão pouco desponta. E já vai sendo tempo de romper como alternativa credível e capaz de entusiasmar parte significativa de uma população que já há muito voltou costas a esta classe política.

Ao contrário do BE, mantém a sua identidade, não se vende a uma potativa eleição ou vitória eleitoral. Mas não cresce e tão pouco fixa eleitorado, acabando por perder um significativo número de votantes. Na verdade e utilizando o método anterior, tendo como comparação a votação conseguida por Jerónimo de Sousa, em 2006, Francisco Lopes perde 165.685 votos, quando o limiar de perda, imposto pela nossa regra de três simples, seria 90.000 votos. A votação do candidato do PCP, fica assim a 20 % do mínimo exigível, facto que obriga a catalogar o seu resultado como negativo. Mais negativo ainda, quando obtido na actual conjuntura politica e social.

Sem qualquer referencial comparativo, a análise aos resultados obtidos pelos restantes candidatos deve ser feita em termos absolutos, procurando identificar a origem dos seus votos e a caracterização de um eleitorado indefinido, mas onde se adivinham as respectivas motivações.

Fernando Nobre surge-nos como o Manuel Alegre de 2006. O candidato de todos aqueles que aceitando sem ponta de mágoa o actual sistema de organização politico-económico, apenas se encontram desagradados com os actuais interpretes. É caso para dizer: Taditos, estão tão aborrecidos! E adivinhar-lhes as interjeições: “Estes políticos são todos uns cocós. É preciso mudar e o seu dotor parece ser gente séria, até falou com uma data de bispos. É bom e é chique. Até emocinou com a coragem do tiro na cabeça!”.
Político prêt-à-porter, uma nova tendência com raízes retornadas, nada tendo a ver com a anterior colecção absolutamente démodé. Albergue de gente de toda a espécie, ainda assim possível de agrupar em dois imensos “clusters”.
Uma intelectualidade transversal ao espectro politico-partidário, que se tem em muito boa conta pessoal e, com crença na sua destreza mental se acha capaz de romper amarras com os políticos que o 25 de Abril pariu. São eleitores do sistema, dele sairam e a ele irão, em breve, regressar.
E uma direita reaccionária e católica que não acredita nas lágrimas de crocodilo vertidas pelo filho do gasolineiro de boliqueime e que na sua caridadezinha de condão humanitário, se revê no lider da AMI.

José Manuel Coelho sim, apresenta-se como um candidato anti-sistémico, capaz das traquinices que o PCP impede aos seus jovens e menos jovens militantes. Para ele, a educação é a verdade e a denúncia. O discurso é a confrontação sem tréguas. Um candidato onde a coragem se confunde com a tolice, que fez as delícias de uma boa parte do sumido eleitorado do BE e de outras esquerdas baixas.
Intelectuais de uma esquerda urbana, envergonhada do seu passado e intelectuais de uma esquerda rural, quais bloquistas “matarruanos”, encontraram o Coelho no fundo de uma cartola para onde foram atirados pela sua desavergonhada elite partidária.




1 comentário:

  1. Andava perdido pela net até encontar esta análise~ao resultado da eleições presidenciais.
    Espectacular!!

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