10 de fevereiro de 2011

O gajo é teimoso

Mubarak parece estar apostado num jogo perigoso. Como escrevi no meu último post o regime parece ter uma estratégia de dividir a população e cansar a contestação. Hoje quando a multidão eufórica esperava uma declaração de demissão recebeu mais um balde de água fria: Mubarak não se demite mas passa os poderes para o vice Omar Suleiman. Ao início da tarde o comunicado nº1 do estado-maior das forças armadas anunciando que as exigências do povo seriam satisfeitas dava a entender que o exército teria assumido o poder e assumiria o comando da transição. Neste momento não é claro qual a posição do exército, visto que o discurso de Mubarak desautorizou completamente o espírito do seu comunicado nº1. Vai tolerar Mubarak muito mais tempo e permitir que a sua teimosia leve a uma radicalização cada vez maior das massas populares?

O impasse continua então. As duas últimas semanas mostram como a situação flui rapidamente e como cada tomada de iniciativa do governo tem sido ultrapassada pelas massas quando tudo parecia começar a perder-se.

Mas agora o movimento precisa de uma mudança qualitativa para dar um golpe de misericórdia ao regime. Escrevi há dias que esse golpe poderia ser uma marcha até ao palácio presidencial. Hoje duvido que isso seja eficaz (Alá seja louvado por eu não ter qualquer influência na revolução egípcia). Primeiro manter a praça Tahrir é essencial para a sobrevivência da revolução, se o governo conseguir evacuar a praça fica com o terreno aberto para lançar uma vaga de repressão que esmagará a revolta. Segundo, face às impressionantes mobilizações da praça Tahrir, uma marcha não representa uma mudança qualitativa.

Há no entanto um facto que nos dois últimos dias começou a alterar a situação, aquilo que parece ser a entrada em cena da classe trabalhadora egípcia. No canal do Suez, nos transportes públicos, nos hospitais, nas escolas, vários sectores do trabalho entram em greve e começam a juntar-se à revolução. A praça Tahrir é uma experiência de auto-organização e auto-gestão para muitos trabalhadores que se juntam aos protestos e se esta experiência se espalhar pela indústria e serviços do país a paralise da economia forçará a burguesia egípcia a correr com Mubarak. E esse é apenas mais um passo na revolução. Eu devido que, depois de terem experimentado a liberdade, as massas egípcias voltem em paz para suas casas quando Mubarak for embora.


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