2 de fevereiro de 2011

Ponto crítico no Cairo



A situação no Egipto está num ponto crítico. A meu ver a decisão de não desfilar até ao palácio presidencial no protesto de ontem permitiu a Mubarak recuperar a iniciativa. E foi o que se viu, uma multidão organizada pela polícia fustigou durante todo o dia os revolucionários da Praça Tahrir. O resultado não é claro e parece que os opositores de Mubarak conseguiram aguentar-se no terreno. Os próximos dias vão ser absolutamente decisivos e tudo vai depender do efeito que o dia de hoje teve na confiança dos revolucionários.

Algumas lições temos que tirar disto. Uma é a absoluta necessidade de um grupo capaz de dar direcção ao movimento. A espontaneidade e a coragem do cidadão comum é um elemento fundamental numa revolução mas é impossível lutar contra um poder altamente centralizado e dispondo do controlo de milhares de homens armados e dos recursos do país com base na espontaneidade. Uma direcção que seja capaz de interpretar o desejo das massas populares tem que ser capaz de indicar um rumo para a acção e concentrar a energia do movimento para destruir a capacidade de iniciativa do regime. Sem isso a energia do movimento corre o sério risco de se dispersar sem atingir os seus objectivos. A partir daí podemos esperar o pior. Como dizia o revolucionário francês Louis Blanqui, aqueles que fazem meia revolução cavam a sua própria sepultura. O fim do movimento vai significar uma onda de vingança da parte do regime e é essa uma das razões pelas quais o movimento não pode parar.


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