7 de março de 2011

Divertimento, crise ou revolução, é tudo uma questão...



Já não se pode sair do país, nem que sejam umas míseras 24 horas, para conviver com os amigos e desanuviar a cabeça. E quando chegamos constatamos que está tudo na mesma, 24 horas não é muito tempo, eu sei, mas podiam ser 24 meses, ou mais, que não faria diferença absolutamente nenhuma. Todos podemos pagar para fugir à crise, uns mais outros menos e das mais variadas maneiras, uns saem para a diversão, outros dão o corpo ao manifesto fazendo peregrinações. Alguns sádicos pagam 0.60 + IVA, por cada chamada para o festival da canção.
Em certos regimes árabes levam esta coisa a sério, elevam a fasquia, passam a outro nível. Os governantes de alguns países, para fugirem à crise, provocada eventualmente por uma revolta popular, estão dispostos a perder a cabeça. Para poderem continuar com o sadismo e o divertimento, pagam para se manterem no poder. Ora bolas, assim não temos hipótese, isso é concorrência desleal! 




Kuwait, Arábia Sáudita e Bahrein distribuem dinheiro aos cidadãos para impedir o contágio das revoltas populares

A versão árabe do Estado social, que beneficiou sobretudo a entourage política dos regimes autocráticos liderados por elites sunitas no golfo Pérsico, está a democratizar-se rapidamente e em força. O medo das revoltas populares no Médio Oriente forçou os governos a distribuírem petrodólares pelos cidadãos: uma contrapartida para se manterem no poder, recebendo em troca a paz social.

No Kuwait, o emir xeque Sabah al-Ahmad al-Sabah ordenou a distribuição de 2598 euros mensais, em dinheiro, por cada um dos 1,12 milhões de cidadãos nacionais do país até 31 de Março de 2012. Prometeu, também, alimentação grátis, durante 14 meses, para os nativos. Os 2,4 milhões de estrangeiros residentes não terão direito aos subsídios, mas o regime - que se prepara para comemorar os 50 anos da independência, o 20º aniversário da libertação da ocupação iraquiana e os cinco anos da ascensão do emir ao poder -, decidiu amnistiar os imigrantes ilegais. Os cidadãos do Kuwait não pagam impostos sobre rendimentos e têm acesso a petróleo subsidiado. Cerca de 360 mil pessoas, 80% da força de trabalho, tem empregos públicos e recebe um salário médio de 2545 euros. Mas, apesar da almofada pública, os preços dos alimentos aumentaram 12,3% no Kuwait e a inflação chegou aos 5,9% em Novembro - o valor mais alto dos últimos 20 anos. Estas decisões políticas surgem depois de os jovens do Kuwait, inspirados pelas revoluções populares na Tunísia e no Egipto, terem demonstrado nas ruas a sua raiva contra o regime. O governo tenta agora retirar fôlego a uma grande manifestação de trabalhadores árabes e asiáticos marcada para 7 de Março. 


De regresso à Arábia Saudita, após três meses no estrangeiro por razões de saúde, o rei Abdullah bin Abdulaziz Al Saud foi ontem saudado no aeroporto de Riade. Os protestos nas ruas sauditas emergiram no início de Fevereiro. Daí as promessas de reforço dos apoios sociais. O rei decidiu aumentar em mil milhões de ryals o orçamento da Segurança Social. E ordenou a injecção de mais 40 mil milhões (7790 milhões de euros) no fundo de desenvolvimento do país que providencia empréstimos sem juros a quem queira construir casas, casar ou iniciar pequenos negócios. Os desempregados passam a ter subsídio, os presos por não pagamento de dívidas serão libertados; os estudantes no estrangeiro terão propinas pagas pelo Estado.


Doente e quase a fazer 87 anos, o rei é um símbolo de liderança e poder na região que pretende "assegurar o progresso ordeiro no seu país e no mundo árabe", escrevia ontem o diário "Arab News". Significa isto a democracia? O príncipe saudita Turki al-Faisal, foi questionado em Davos, na Suíça, sobre se a onda de democratização no Médio Oriente seria mais desestabilizadora do que um Irão nuclear. Respondeu: "Não sei. Na Arábia Saudita não temos armas nucleares, nem democracia". 


A legitimidade do reino saudita, onde não há partidos políticos, não foi ainda posta em causa. Ao contrário do que sucedeu no Bahrein: aí, a maioria xiita já conquistou o parlamento nas eleições de Outubro e exige agora o fim da monarquia constitucional. A 13 de Fevereiro, o rei Hamad bin Issa al-Khalif prometeu 1900 euros a cada família em "sinal de apreço". O suborno não funcionou e os jovens saíram às ruas a exigir reformas políticas, económicas e sociais.



Sem comentários:

Enviar um comentário