4 de março de 2011

Khadafi tem que ser derrotado





Alguns comentários sobre a revolução Líbia:

1 – A revolução Líbia insere-se na onda de levantamentos populares que têm varrido o mundo árabe. É uma revolta contra uma situação económica intolerável (um custo de vida insustentável sobretudo devido ao aumento brutal do preço dos alimentos, taxas de desemprego elevadas) e contra regimes políticos tirânicos (estados de emergência que duram há décadas, proibição de partidos políticos, prisão e tortura de oposicionistas aos regimes). Estes ingredientes são comuns a todos os países onde se têm dados as revoltas e outros onde elas ainda vão acontecer. A Líbia não é excepção e o facto de o nome oficial do país incluir a palavra socialista é algo vazio de conteúdo e do domínio do folclore a que Khadafi parece ser tão apegado.

2 – A revolta na Líbia assumiu a forma de um levantamento popular armado (e há quantas décadas não víamos um levantamento popular armado?) porque foi assim que Khadafi definiu os termos em que a luta se ia travar. É a única possibilidade que resta aos revolucionários depois de manifestações pacíficas serem atacadas com fogo real e bombardeadas pela força aérea.

3 – A tenacidade e a coragem dos revolucionários para enfrentar e derrubar um dos mais sinistros ditadores do mundo árabe é admirável. Apesar dos relatos das deserções o exército não se passou para o lado dos rebeldes. Infelizmente o exército dissolveu-se e o que resta é depósitos de armas e alguns oficiais que a custo estão a construir um exército voluntário de cidadãos para combater o regime. A capacidade de transformar este novo exército numa força realmente capaz de combater ditará o desfecho da revolução.

4 – A Tunísia foi uma surpresa para o ocidente. No Egipto a América ainda foi a tempo de aconselhar o estado-maior do exército a não salvar Mubarak com um banho de sangue. Assim foi-se Mubarak e conservou-se a principal instituição do regime (o exército), mas a revolução ainda está longe de ter terminado. A partir daqui Washington percebeu que a vaga revolucionária tem que ser estancada. No Bahrein tentou-se a força bruta para expulsar os manifestantes da rotunda da Pérola mas sem sucesso. O amigo Khadafi tornou-se assim o homem para cumprir a missão. Os muitos dias de silêncio da Casa Branca e da União Europeia não foram mais do que um encorajamento na espectativa de Khadafi esmagar a revolução em poucos dias. Enganaram-se, tentam de alguma forma corrigir o rumo mas sempre guiados pelo preço da gasolina. É que estas revoluções são a mais séria ameaça aos interesses ocidentais das últimas décadas e para conter a ameaça nada mais necessário que uma derrota, de preferência sangrenta, para manter a turba árabe no seu lugar.

A questão da intervenção estrangeira ficará para outro post.


Sem comentários:

Enviar um comentário