13 de março de 2011

O Nilo desaguou na Europa





As manifestações da geração à rasca superaram largamente as expectativas mais ousadas quanto à possível dimensão do protesto. Regozijemo-nos portanto com o golpe de audácia dos quatro organizadores da página do Facebook, que à semelhança dos nossos irmão egípcios perceberam que estávamos no tempo certo para trazer o povo para a rua. Exaltemos o facto de para muitos milhares de pessoas um dos dias mais felizes das suas vidas ter sido um dia de luta! A luta é alegria!

Muita tinta irá correr sobre estas manifestações. Os comentadores e supostos formadores da nossa opinião farão o seu melhor para desvalorizar e menorizar o protesto. O facto é que a dimensão, e pluralidade, a espontaneidade, o entusiasmo e a rebeldia da multidão dificilmente levará um rótulo. Os cartazes e palavras de ordem eram muitos e variados mas “O povo unido jamais será vencido” espalhava-se como fogo na pradaria. O refrão desse dia foi “Luta, luta camarada luta”. Assim pelo que vi não hesito em dizer que este grandioso protesto popular foi um protesto de esquerda, com um eixo unificador de rejeição da exploração e do desespero que o sistema capitalista nos impõe (obviamente não estou convencido que toda a gente na manifestação interprete as coisas nestes termos). Tal como não duvido que o medo começa a fazer-se sentir entre as paredes do Palácio de São Bento e os ditos formadores da nossa opinião.

Terá nascido um novo movimento social? Depende de muita coisa a começar pelo problema da organização. Ainda ninguém sabe o que se seguirá o que do meu ponto de vista não é assim tão preocupante. Se o protesto tivesse sido organizado pela CGTP já sabíamos a receita: daqui a duas semanas havia manifestações descentralizadas nas capitas de distrito, passada uma semana entregava-se um abaixo-assinado no ministério do trabalho e no dia seguinte já tudo estaria esquecido. A continuidade do movimento depende da capacidade de levar a Avenida da Liberdade para dentro das escolas e dos locais de trabalho. De aproveitar o entusiasmo e a iniciativa destas centenas de milhares de pessoas para criar uma grande rede nacional de solidariedade e activismo que faça ouvir a voz do povo. Mas acima de tudo que dê ao povo confiança nas suas próprias capacidades para organizar a luta e conquistar as suas reivindicações Não podemos cair em ilusões camaradas: ainda está tudo por ganhar!


3 comentários:

  1. Gostaria de tecer aqui algumas considerações que me parecem deveras pertinentes. Sabes que mais cego do que quem não vê é aquele que não quer vêr, ou que refém das trapalhadas e sede de protagonismo de uma certa esquerda aparece agora "deslumbrado" com uma pseudo revolução como se não aprendesse nada com a história e não visse como é conveniente "sair para a rua com o cravo na mão na hora certa". Mas começemos pelo inicio: falas em golpe de audácia e em tempo certo, a mim parece-me mais oportunismo descarado da luta genuina, dura, verdadeira, uma luta de vida ou morte, uma luta séria dos povos irmãos que se levantam um pouco por todo o mundo. Falas da pluralidade, nos outros paises vi o povo a lutar, irmãos na luta e na conquista e aqui? Achas genuinamente que o engenheiro precario de hoje se amanhã for efectivo na multinacional olhará o operário como seu irmão trabalhador igualmente assalariado? Então é porque continuas a conhecer muito mal o teu país. Achas de facto que o dia 12 foi um dos dias mais felizes da vida destas pessoas e que a luta é alegria, então desculpa a honestidade mas nunca lutaste e nunca ganhaste nada! A luta é dor, é combate é coragem (e honra seja feita a todos aqueles que por ti e por mim o fizeram, atreve-te a dizer a todos esses que torturados ou mortos nos campos de concentração que este país já teve, e não branqueemos a história,que a luta é alegria). Esqueces também de forma leviana ofensiva e quase obescena as décadas de luta sindical que a CGTP entregou aos trabalhadores portugueses tudo aquilo que esta central conquistou por mim e por ti e se mais não conseguiu foi porque o teu "povo unido" sempre se deixou vencer! Até porque mesmo no seu seio sempre existiram filosofos que como tu vêm revoluções ao virar de cada esquina e não entendem que só quando todos quisermos é que a mudança é possivel! A revolução começa em cada um de nós. Até amanhã camarada!

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  2. Cara Maria Wireless
    Parece-me que a maior parte dos teus comentários são injustos em relação ao movimento e já agora também em relação a mim. Não ando propriamente a ver revoluções em cada esquina (àparte a Tunísia, a Líbia e o Egipto) e se releres o meu post verás que no último parágrafo levanto a questão de o dia 12 de Março se poder ou não converter num movimento social o que não é tão bom como uma revolução mas é muito melhor do que o que temos agora.

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  3. Sim, sim. A resposta até é boa, peca é por escassa. E em relação a tudo o resto? O silêncio é melhor que o comprometimento?

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