3 de março de 2011

Protesto dos desenrascados




Manif, perdão… Manifestação… não, também não, dito assim, não sei o que parece…
Manifestação de descontentamento, assim está melhor, ou não? Se calhar não.
É melhor escolher melhor as melhores palavras, para se conseguir o melhor efeito, para nós que somos os melhores, se bem que andemos a ser melhor comidos, sem nos darmos conta que o melhor seria mesmo, sei lá…
Protesto! É isso mesmo!
Boas… Estava a ver que não arranjava melhor termo para esta coisa.
Proooooteeeestoooooo.
E já agora protesto de quem? E contra o quê?
Protesto dos melhores, ora essa!
Nós, os melhores, os que estudamos afincadamente, sempre na perspectiva de melhorar economicamente a nossa existência.
Nós, os desenrascados, os que sempre acreditamos ser possível extrair o que este sistema tem de melhor.
Por isso dizemos:

Protesto dos desenrascados


Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.

Confesso que gosto deste crescendo, da forma como esta sentença nasce, saída das entranhas do enrascanso em que muitos se encontram.
Saída do desespero dos desempregados e demais precários que este sistema promoveu, estendendo-se por aí "a fora", numa viscosidade que pretende entranhar-se no mais fundo dos nossos medos e das nossas frustrações, almeja aglutinar e agregar as vontades dos enrascados desta nação para, num golpe volitivo, todos alcançar.
As mães, os pais e todos os filhos de Portugal… Que emoção! Tão lindo!
Este tom apoteótico com que tal desígnio se aclara, obriga-nos ainda a acreditar neste país, nestes modos de gerir a vida das pessoas, pois que o problema está apenas… na honestidade de quem gere as nossas vidas. E assim, repousando num pobre e eterno orgulho em ser português e aproveitando a pueril e patética existência de uma certa intelectualidade burguesa, denuncia as intenções demagógicas e populistas de quem engendrou tal iniciativa, apagando à nascença qualquer centelha de mudança.

Décadas de esforço, investimento e dedicação de quem? Dos que antes destes “trabalharam pelo nosso acesso à educação, pela segurança (?), pelos nossos direitos laborais e pela nossa liberdade”?
Mas para vós, enrascados, quem são estes?
Eu, por mim, sei quem são!
São aqueles que no próximo dia 19 de Março estarão nas ruas de Lisboa.
Os mesmos que últimos 30 anos, sobretudo em Abril e Maio, sempre estiveram nas ruas deste país.
São aqueles que durante a ditadura fascista sentaram o coiro no cárcere.
São aqueles que na Assembleia de República, nunca se portaram como cata-ventos.
Eu sei quem eles são!
Vós, os mentores desta iniciativa, não! E pior ainda, pareceis não querer saber.
Eu sei. Eu sei quem eles são e às tantas saberei mais ainda.
Saberei também quem vós sois. Sois os filhos da demagogia, do populismo e da indisfarçável orfandade governativa de cavacos e quejandos.
E por isso vos acompanham os Albertos Joãos Jardins deste país.
E também por isso, que de elementar justiça se trata, vos deixo aquele que deveria ser o vosso hino.
Porque mais condizente com a vossa qualidade apolítica, apartidária, laica e pacifista.
E sobretudo porque mais simples ainda que o enrascado refrão dos Deolinda.






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