28 de outubro de 2010

Sem stresses, Maria!




“Assim de repente parece que anda tudo parvo, às tantas começo a pensar que sempre foi tudo parvo, só que com a crise notam-se mais estes alucinados”.
Li isto algures sem deixar de soltar uma contida gargalhada. Será verdade?
A crise tem destas coisas. Amplia a patetice, a modos que “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Sem esquecer porém que aquele que mais ralha, em geral é aquele que escondeu o pão, assim em jeito de “quem se queixa, é quem larga a ameixa!”
Eis-me para aqui a... logo eu que fujo da sabedoria popular… e desconfio de quem abusa das citações, assim como quem fala pela boca dos outros, por da sua pouco haver a experimentar.
Deve ser da crise que também já me fustiga, ainda que, prevejo eu, só lá para finais de Janeiro mais severamente o fará.
Perguntar-te-ás Maria, qual o alcance destas derivações em dó (de alma) menor? A nota, que não a alma.
Vem isto a propósito do OE e da forma como foi cozinhado.
Desde a restrita lista de condimentos que lhe está previamente imposta pelo economato transnacional, até à triste confecção em que se irá traduzir no repasto proporcionado à maioria dos portugueses.
Pior seria, se não houvesse jantar.
Mas valha-nos que estamos em boas mãos. O grande Chefe José Silva e o Petit Chef Pierre Lapin, tratarão de servir o repasto, desta feita sem queijo (Limiano, leia-se), porque de restantes variedades não faltará, a acreditar na habilidade com que o mesmo afaga o nosso lobo temporal.
Seguramente com algum sacrifício, mas sem nunca perder o gosto pela culinária, meio ano bastará para o Petit Chef se tornar grande e o José Silva se voltar para outros tachos.
Por agora ficamos a perceber que a partir da cozinha das inevitabilidades, continuarão a ser servidas duas salas de jantar distintas, ou melhor dizendo:
Uma imensa cantina, estilo self-service, onde a maioria dos comensais se irá digladiar, por vezes em busca de um escasso garfo que seja, a pontos de acabarem todos a comer com as mãos.
Por outro, um salão de chá povoado de novos-ricos, verdadeiros cães de fila, orbitando em torno de herdeiros de bafientas e sinistras figuras que transitaram do regime anterior, acompanhados ao divã por velhos decrépitos à espera das debutantes.
Tudo devidamente vigiado e em condomínio fechado. Com carro blindado, motorista e segurança à porta, que amanhã é preciso levar os meninos ao colégio e está marcada uma consulta no hospital da CUF.
Importa é não perder o pé. Desde que o ascensor não deixe de funcionar.
Entre juízes, demais causídicos, polícias, caciques, ministros religiosos - sobretudo da ICAR, com longa tradição na actividade parasitária do poder (sem paradoxo, ao que consta morto que foi há dois milénios) - ex-sindicalistas, ex-comunistas e ex-sei-lá-mais-o-quê, muitos haverá que, com um pé cá e outro lá, ajudarão a manter a ilusão do instante. Qual photomaton,
- Eu estive lá. Ele apertou-me a mão!
Está cumprida a igualdade de oportunidades.
Arre diabo! Um dia, todos haveremos de conseguir!
- Ainda jantarei naquele salão, afinal de contas sou bom, ou não sou? Ou estão à espera que não acredite nas minhas potencialidades, hã? Mas que raio vem a ser isto?
Sem percebermos que tudo isto é como jogar no Euromilhões! A sorte de um, é o exemplo que serve para legitimar a ideia de que todos conseguirão… Percebendo-se demasiadamente tarde, que afinal de contas, as contas das probabilidades, beneficiam sempre os mesmos.
Mas o que importa é que um dia, ainda hei-de ser grande, e nesse dia c'um caneco…
Nesse dia, o quê?
- Nesse dia, mas somente nesse dia, perceberei que faz todo o sentido reservar “o direito de admissão”.
 
 

2 comentários:

  1. Parece que as primeiras negociações falharam, pelo facto de não haver um telemóvel disponível, para tirar a foto!

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  2. Olá, Jpedro

    O que impressionou, ou talvez não, foi o circo montado em torno disto tudo.
    Como se estes cretinos fossem desperdiçar esta oportunidade.

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