12 de dezembro de 2010

PS - Uma farsa política



Em tempos Mário Soares, referiu que "(...) Desde o fim da guerra fria se vem a acentuar uma crise do socialismo democrático ou da social-democracia. O fenómeno mimético de certo socialismo com o neoliberalismo foi trágico e poderá explicar algumas derrotas socialistas recentes. (...)".
E, continuando no domínio da pantomima, tão do agrado do folgazão personagem, lá foi referindo que "a seguir, com o colapso do comunismo e o fim da guerra fria, o neoliberalismo avançou sem freios, dando lugar a uma forma nova e perversa do capitalismo, o capitalismo especulativo do nosso tempo, o "império" do dinheiro sem pátria, que, através das multinacionais, procura comandar o mundo, sem que para isso tenha qualquer legitimidade democrática.”

Ao contrário daqueles que juntamente com Fukuyama declararam o fim da história, considero um imperativo civilizacional que no presente se faça uma inequívoca distinção entre esquerda e direita.

Importa-me a definição clara do campo que os diferentes grupos políticos ocupam e a identificação dos interesses que defendem.
Interessa-me a clareza da sua natureza de classe. Sem subterfúgios, nem nuances de linguagem. Para que de uma vez por todas se desfaçam as confusões que alguns cretinos teimam em eternizar a fim de enfraquecerem a verdadeira esquerda.
E é neste contexto que assinalo a nociva acção que os diferentes partidos socialistas europeus desenvolveram ao longo da segunda metade do século XX.
Na verdade mais do que um desvio ideológico ou programático, os partidos socialistas europeus cumpriram um importante papel. Foram juntamente com os partidos social-democratas, o verdadeiro cavalo de Tróia com que o capitalismo derrotou as legítimas aspirações da classe proletária europeia. Acompanharam alegremente o caminho escolhido pela social-democracia europeia desde o célebre congresso do SPD de Bad Godesberg em 1959, até à concepção política da CEE, embrião da actual U. E., toda ela baseada numa economia de mercado assente na livre concorrência (como estabelece o Tratado de Roma, de 1957).
Todavia, aquilo que verdadeiramente se deverá extrair do percurso histórico dos socialistas europeus, não será tanto o conteúdo das suas opções mas sim, a forma como sempre se apresentaram ao eleitorado.
Nunca tiveram a sinceridade ou a dignidade de assumirem um novo paradigma político, sendo caso para perguntar se não o fizeram por falta de ideólogos ou por mera distracção.
Mais alvitrante se torna a postura dos socialistas portugueses, quando fundada em tempos ulteriores ao já aludido processo de transformação do socialismo europeu.
O punho cerrado e a vestimenta vermelha com que se apresentaram ao povo português, em vésperas de um golpe militar anunciado, deram precocemente o lugar à rosa sem espinhos que até as tonalidades do partido mitigou.
Enganaram e continuam a enganar o povo português.
Apresentam-se e são incansavelmente apresentados como a única alternativa viável de esquerda, servindo como abrigo aos votos dos descontentes com as opções mais liberais. E somente para isso servem.
São a almofada do sistema. São o dique que impede que corra o fluxo de eleitorado da direita, para a verdadeira esquerda.
Actualmente não passam de uma finta do capital, para que tu Maria, muito sistemicamente possas continuar a brincar ao jogo das artificiais alternativas políticas.
Os partidos socialistas são em Portugal, como em Espanha, na França e noutros países da Europa, um tampão à liberdade e autodeterminação política do povo europeu.
Creio chegado o momento de exigir à verdadeira esquerda que rompa amarras com esta gentalha.
É já insuportável a desfaçatez com que estes partidos se intitulam socialistas. Pergunto-me como é que de cada vez que produz o mais singelo acto político, que passa pela identificação da sua filiação partidária, um militante do PS português convive tão impunemente com a trapaça e o logro.
Não consigo compreender que por exemplo em Portugal, e perante os últimos 30 anos da “acção socialista”, um único que seja, simpatizante do PS, conviva bem com a designação de socialista.
E já que a mais não se dispõem, que nos façam o menor dos favores e se assumam perante os portugueses como aquilo que anunciam ser, socialistas democráticos.
Reinventem-se como Partido Socialista Democrático (PSD) e submetam-se ao escrutínio de um povo que finalmente perceberá aquilo que verdadeiramente os distingue daqueles que nas vezes do branco, usaram o amarelo para esconderem a coloração com que, de origem, enganaram os mais incautos.

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