4 de fevereiro de 2011

Impasse




Após a batalha da Praça Tahrir o “dia da partida”. Milhões na rua por todo o país, uma demonstração de força e determinação impressionantes, mas mesmo assim o ditador não se vai embora. Não creio que este impasse seja um acaso.


Primeiro, a revolução já esgotou a sua capacidade de progredir confinada à Praça Tahrir. O regime precisa de um golpe de misericórdia, ou seja uma marcha de milhões rumo ao palácio presidencial. As massas estão impacientes para derrubar a ditadura mas não há direcção com capacidade e com vontade de conduzir a luta para um patamar mais elevado capaz de desferir o tal golpe de misericórdia.


Segundo, está certamente a haver negociações entre o governo e a oposição e talvez seja essa a razão do impasse e que faz com que os dirigentes da oposição não organizem a luta. Está claro que os partidos da oposição perderão toda a credibilidade e apoio popular se aceitarem uma transição tutelada por Mubarak. O que deve estar a acontecer é a definição dos termos da saída de Mubarak, que para mim parece cada vez mais inevitável. Nestas negociações estão obviamente envolvidos os Estados Unidos a tentar garantir a inviolabilidade dos seus interesses geoestratégicos. Não será difícil portanto adivinhar o preço da saída de Mubarak: a estabilidade institucional (ou seja, uma presença do velho regime) na definição do processo de transição, a estabilidade da ligação com os Estados Unidos, a inviolabilidade do acordo de paz com Israel e a continuação do cerco a Gaza. Mas mesmo que isto aconteça falta saber como vai reagir o povo a uma tal negociata.


Os manifestantes continuam na praça mas há neste momento um silêncio impenetrável. Há manifestações convocadas para domingo, segunda e terça.


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