3 de fevereiro de 2011

Uma batalha vencida, falta ganhar a guerra


O dia de ontem ficará na história como um dos mais brilhantes e corajosos episódios da luta de classes. Os manifestantes anti-Mubarak lutaram toda a noite contra forças organizadas pela polícia do regime, organizaram barricadas, fizeram recuar os mercenários de Mubarak e conseguiram manter o controlo da praça Tahrir. No entanto a situação permanece tensa e indefinida, há milícias pró-Mubarak à solta pela cidade e não está excluida a possibilidade de um assalto armado à praça para liquidar de vez a revolução. Mas por enquanto a determinação dos revolucionários está aparentemente a deixar o regime nervoso. Foram anunciadas medidas contra ex-ministros como a proibição de viajar imposta ao ex-ministro do interior, o vice-presidente deu uma longa entrevista anunciando contactos com a oposição e a disponibilidade para fazer reformas (embora dentro do âmbito da constituição, o que obviamente é uma garantia muito pouco fiável) e o próprio Mubarak vem anunciar que está farto da vida política e que gostaria de se reformar não fosse o caos que isso poderia causar.

As declarações dos lideres ocidentais são um exemplo de hipocrisia em relação ao Egipto. Exigem o respeito pelas liberdades dos opositores mas não dizem aquilo que é a principal exigência dos revolucionários: Mubarak tem que sair já. Compreende-se a hesitação dos governos ocidentais, afinal o Egipto é o país fulcral na arquitectura repressiva que foi montada para proteger os interesses ocidentais no Médio Oriente. Por isso muitas movimentações se estarão a realizar nas embaixadas para tentar que algo mude para que tudo fique na mesma.

Mas não há conspiração diplomática que possa vingar se o movimento se mantiver determinado no seu rumo. A Irmandade Muçulmana, o mais organizado movimento de oposição (e o fantasma de muitos senhores comentadores preocupados com a desordem e o aumento do preço da gasolina) já anunciou que não negoceia nada enquanto Mubarak for presidente.

Amanhã está convocada uma grande concentração, “o dia da partida”, que a oposição espera ser o golpe final no regime de Mubarak. Inshalá!




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