13 de fevereiro de 2011

Mitos da revolução egípcia


Barack Obama falou ontem ao mundo. Um discurso aguardado com curiosidade por ser o principal aliado e o principal beneficiário da tirania de Mubarak. Estando na delicada posição de ter que abordar um situação cujo desfecho é ainda totalmente imprevisível mas que é por enquanto bastante desfavorável Barack Obama teve a inteligência de tecer loas aos revolucionários e de caminho começar a propagar os mitos que mais convém aos interesses dos Estados Unidos. Realço dois:

1 – Uma revolução pacífica

Quando Obama fala de uma revolução pacífica, é óbvio que o seu objectivo é desarmar a próxima revolução (Argélia? Iémen?). Numa situação tão complicada nada seria melhor do que revolucionários a enfrenta a polícia com “a força moral da não-violência”. A ideia faz um discurso bonito mas é uma grosseira distorção da realidade porque esta primeira grande vitória da revolução egípcia só foi possível porque o povo soube usar a violência. Primeiro entre os dias 25 e o dia 28 (em que a polícia desapareceu e o exército veio para a rua) as lutas de rua foram brutais, generalizadas e mortíferas. Em quatro dias de combates o povo mostrou ao regime que estava na rua para ficar. Depois, no dia 2 de Fevereiro e na madrugada do dia 3 os manifestantes da Praça Tahrir tiveram que enfrentar uma turba de mercenários de Mubarak montados em cavalos e camelos, armados com bastões, espadas e armas brancas e como mais tarde se viu, apoiados por elementos policiais com armas de fogo, e apenas com as pedras da calçada e a sua determinação em não perder a revolução, lutaram, capturam, espancaram e prenderam muitos mercenários. Resistiram uma noite inteira em que tudo parecia perto do fim. Na manhã seguinte tinham conseguido repelir o ataque, construído um sistema de barricadas e assegurado a posse da praça que se tornou o símbolo e o epicentro da revolução. Mais de 300 pessoas morreram em todo o processo, nada de muito pacífico.

2 – Ecos da história

Obama tenta integrar a revolução egípcia na linha da queda do muro de Berlim, da revolução na Indonésia em 1998 e na independência indiana (“pacificamente” liderada por Ghandi). Tudo casos em que a coisa correu bem ou seja, países que hoje estão plenamente integrados no sistema capitalista mundial. Que é este o desejo dos Estados Unidos é algo que eles não escondem, mas nesse momento trata-se apenas de um exercício de whishful thinking. Mas é também um exercício de comparações enganosas. Quando o Muro de Berlim caiu os Estados Unidos assistiam à derrota do seu principal inimigo. Quando Mubarak cai, os Estados Unidos assistem à queda de um dos seus principais aliados. Se a revolução egípcia resolver acabar com o bloqueio a Gaza veremos o que Obama vai ter a dizer sobre este insaciável apetite dos povos pelo derrube de muros.



1 comentário:

  1. Quando o Muro de Berlim caiu os Estados Unidos assistiam à derrota do seu principal inimigo. Quando Mubarak cai, os Estados Unidos assistem à queda de um dos seus principais aliados. Se a revolução egípcia resolver acabar com o bloqueio a Gaza veremos o que Obama vai ter a dizer sobre este insaciável apetite dos povos pelo derrube de muros.
    Muito bem!

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