15 de março de 2011

Voltemos à Libia e ao Bloco


Agora novamente com letras pequenas. Acho que vale a pena ler a justificação do Miguel Portas no site do Bloco antes de fazer comentários sobre a inflexão imperialista do Bloco de Esquerda. Fica claro que a votação se tratou de uma mera posição tática que permitiu influenciar a redação do documento final impondo restrições importantes aos anseios mais belicistas, o que está longe de ser o apoio à invasão da Libia que foi inicialmente denunciado pelo Renato Teixeira do 5 dias. Tanto que o parágrafo 10 do documento que considera a “possibilidade” de uma zona de exclusão aérea foi alvo de uma votação na especialidade e o Miguel Portas e a Marisa Matias votaram contra. Já no caso do Rui Tavares, um caso de tontice política patológica, votou a favor. Evoluiu do anarco-parlamentarismo para o anarco-intervencionismo.

Agora convém também dizer que o único amigo do imperialismo na Libia é o coronel Kadafi, e mais uma vez repetir que o silêncio inicial do ocidente perante a revolta significou apenas a esperança de esmagamento da revolta por Kadafi, o que deixaria o país nas mãos de alguém em quem se pode confiar.

Na situação de impasse que se viveu até há uma semana atrás e que correspondeu à grande mobilização de meios militares para uma possível intervenção, não tenho dúvidas que face a uma Libia divida em dois, onde dum lado manda um Kadafi que se tornou politicamente indefensável e do outro uma coligação de rebeldes com aspirações democráticas e pouco dados a negociatas petrolíferas, o ocidente lançar-se-ia numa intervenção militar (e quem sabe uma ocupação) para garantir o acesso ao petróleo.

Mas na última semana Kadafi recuperou a iniciativa e fez importantes avanços militares e o ocidente começou novamente a arrastar os pés. A ideia de uma vitória de Kadafi volta a encher de esperança os nossos governantes que nunca fizeram a tempo o que deviam ter feito: o apoio imediato aos refugiados nas fronteiras da Tunísia e do Egipto, o estabelecimento imediato de relações diplomáticas com os revoltosos, a pressão junto dos países de onde foram enviado mercenários para a Libia para impedir a exportação dos cães de guerra.

A lição que Kadafi está a dar aos restantes tiranos do mundo árabe já está a ter consequências: hoje a Arábia Saudita enviou uma força militar de 1000 homens para o Bahrein para ajudar a esmagar a revolução nesse pais. Mas as lições não se esgotarão por aí. Se a Grande Jamairia Socialista Árabe do Povo Líbio chegar a Bengazhi a revolucao será esmagada com um banho de sangue comparável ao da Comuna de Paris. E a partir desse momento todos os ditadores, do Yémen ao Bahrein, da Argélia à Siria compreenderão que têm rédea solta para aniquilar o movimento popular.

1 comentário:

  1. O problema é que proposta de resolução comum foi toda ela elaborada com o propósito de abrir caminho a uma intervenção militar na Líbia por parte da Nato.
    Esta é que é a questão fundamental!
    Os três deputados votaram a favor da proposta na generalidade, independentemente de depois, dois deles votarem contra o ponto 10, não é por votarem contra um paragrafo que ficam isentos de responsabilidade, porque repito, votaram a favor de um documento elaborado com um propósito!
    O da intervenção da Nato na Líbia! Não há como fugir a isto!

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